DISCOS
Daft Punk
Random Access Memories
· 19 Set 2013 · 22:40 ·
Daft Punk
Random Access Memories
2013
Columbia Records


Sítios oficiais:
- Daft Punk
- Columbia Records
Daft Punk
Random Access Memories
2013
Columbia Records


Sítios oficiais:
- Daft Punk
- Columbia Records
Os primórdios da música de dança pelas mãos robotizadas dos maiores DJs do mundo.
O ilustre André Gomes escreveu nesta casa, há uns meses, a propósito do último disco dos These New Puritans, que “não acontece a todos. Não acontece sempre. Mas de quando em vez acontece. Nem todos tentam, nem todos têm a coragem, nem todos têm o sucesso”, alegando tratar-se duma “maravilhosa reinvenção”. Pois se houve coisa que aconteceu com os Daft Punk, em Random Access Memories, foi isso mesmo: uma “maravilhosa reinvenção”.

A dupla francesa teimou, ao longo da sua carreira, em ir moldando o rumo da música de dança. Habituámo-nos confortavelmente a esperar sempre mais. Mas desta vez decidiram apostar num formato que contrariava os métodos de composição que constituíam o pilar da sua identidade. Gastaram um porradão de dinheiro em manobras publicitárias, pegaram em músicos de carne e osso, muniram-se de colaborações de diferentes pesos e medidas, meteram-se num estúdio e decidiram compor uma ode aos anais da música de dança.

Random Access Memories pode ser entendido como um conjunto de canções (sim, acabámos de usar essa designação para as mais recentes composições dos Daft Punk) pejadas de funk, groove e piroseira 80’s – o Gonzalez que me perdoe, porque “Within” levaria qualquer gaja a rir-se no momento em que lha dedicássemos. Até a entrada do alinhamento, com “Give Life Back To Music”, tem tudo o que de pomposo os anos 80 nos trouxeram, quando qualquer inovação musical tecnológica era para usar, custe o que custasse. Como se tal não fosse suficiente, até a mais pura sonoridade à musical de “Touch” – talvez o melhor tema do álbum – reflecte que, no que toca a prestar homenagens, os dois não entraram em poupanças.

Tudo o que já foi enumerado constitui a verdadeira virtude do disco. Uma desconstrução identitária – não total, porque ainda lá encontramos os vocoders e os arpeggios de sintetizadores, com estes últimos a ganharem especial destaque em “Giorgio Moroder” e “Contact" – que provavelmente desapontou a maioria dos que aguardavam com ansiedade o lançamento de Random Access Memories. Os próprios Daft Punk sabiam isso. Não foi sem nexo, portanto, que meteram Giorgio Moroder e Nile Rodgers ao barulho, sem deixar de piscar o olho às tendências mais recentes com as colaborações de Panda Bear e Julian Casablancas (este último um autêntico erro de casting, para não dizer pior, infelizmente).

É o caso paradigmático duma equipa vitoriosa que decide arriscar e mudar drasticamente a sua forma de actuar. A fórmula de sucesso dos Daft Punk foi abandonada para dar lugar a algo completamente diferente e, dizemos nós, melhor. Gira o disco e toca outra cena qualquer, cheia de pinta e glamour. Foi só isso que aconteceu.
Simão Martins
simaopmartins@gmail.com
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