DISCOS
Parque
The Earworm Versions
· 04 Fev 2013 · 11:08 ·
Parque
The Earworm Versions
2013
Shhpuma


Sítios oficiais:
- Shhpuma
Parque
The Earworm Versions
2013
Shhpuma


Sítios oficiais:
- Shhpuma
Crítica possível a um trabalho que não pode, por defeito, cumprir o seu propósito em pleno.
É sempre complicado abordar um disco gravado ao vivo quando não se esteve lá; a gravação, por mais fiel que esteja, não se compara nem de perto à experiência sensorial que se vivencia a dois metros de uma performance, e os vídeos, por mais que nos mostrem, não passarão nunca de uma fugaz sucessão de imagens que esbarram na frieza do ecrã - não existe contacto humano, comunhão, não existe a percepção conjunta de nós próprios, do que nos rodeia, do outro e da música; existe apenas o som e resta-nos falar do som, analogamente, imaginando o que este poderia ser noutro formato que não o acrílico.

Não é tanto o som quanto a sua presença/ausência aquele que é o principal foco da exploração realizada em Earworm Versions, disco que retrata uma performance/instalação apresentada em 2008, na Culturgest, por Ricardo Jacinto, artista intermídia e violoncelista que teve a companhia de Nuno Torres (saxofone alto), Nuno Morão (melódica e percussão), João Pinheiro (vibrafone e percussão), Dino Récio (percussão) e André Sier (electrónicas). Separado por três peças - "Peça De Embalar", "Os" e "Atraso" -, The Earworm Versions é um trabalho cujo propósito é, num contexto electroacústico, documentar a interacção dos diversos músicos com o espaço que os rodeia (ou rodeou), um espaço que, a nós, nos é perceptível apenas pela audição, com os momentos de (falso) silêncio preenchidos pelos sons que provêm do público que ali esteve presente.

Assim sendo, o objectivo principal de The Earworm Versions não poderá nunca ser captado pelo CD; seria preciso ter feito parte daquela audiência para perceber o trabalho de Ricardo Jacinto na sua contextura exacta - naquele local em específico. Restando-nos não mais que falar dos sons, destaca-se o primeiro movimento de "Peça De Embalar", título enganador para uma peça terrífica, qual aranha subindo pela parede, e os quatro lados de "Os", onde uma voz gravada nos apresenta aquela que será uma das ideias principais desta música («I've taken to talking to myself all the time just to hear some noise»), cativando-nos por completo especialmente no terceiro movimento graças aos pulmões de Nuno Torres. Não é o trabalho completo, como o deveríamos apreciar, mas é uma escuta desafiante e interessante de qualquer das formas.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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