DISCOS
Sofa Surfers
Superluminal
· 17 Out 2012 · 14:35 ·
Sofa Surfers
Superluminal
2012
Monoscope Productions


Sítios oficiais:
- Sofa Surfers
- Monoscope Productions
Sofa Surfers
Superluminal
2012
Monoscope Productions


Sítios oficiais:
- Sofa Surfers
- Monoscope Productions
Mais um mergulho exploratório profundo nesse universo soul-rock paralelo onde se ergueram como músicos de músculo próprio.
Há muito que os Sofa Surfers passaram para um universo paralelo e mergulharam na arte de fazer canções num veio muito particular. Isolaram-se com o álbum homónimo de 2005, reinventaram-se como banda, deixando de lado a ideia que todos tínhamos de que eram um magnifico colectivo de produtores licenciados nas modulações dub, hip-hop, soul e jazz reinventadas nas margens danubianas de Viena. Foram três os álbuns que os colocaram na linha da frente de uma estética que, apesar de suja e rugosa, era simultaneamente sofisticada e elegante. Uma música que vivia de contrastes singulares: pesada e, por vezes, feia que desafiavam o melómano na busca da beleza dos pormenores.

Aproveitaram um hype para se imporem como estetas capazes de arriscar e entrar por becos escuros, clubes fumarentos, mentes perturbadas pelo inferno de Dante ou fábricas enfeitiçadas pelos corvos de Hitchcock . Mas com o declínio do chamado "som de Viena", o colectivo procurou uma alternativa, uma nova postura, uma nova identidade. Abriram as janelas, arejaram o estúdio e atiraram os samplers pela janela e desempoeiraram as guitarras que dedilharam enquanto adolescentes, contrataram um vocalista e vestiram a pele de banda de carne e osso. Canções soul esculpidas numa complexa mantra pop/ rock foi o que nos ofereceram depois de Encounters (2002).

A atitude rock dos Sofa Surfers nunca foi uma novidade transcendente na mutação sónica, nas veias do colectivo essa atitude sempre circulou em forma de industrialismo conspurcado, riffs em loop eterno, distorções filtradas ad libitum, delírios de baquetas nas mãos. O que mudou significativamente foi a forma como passaram a depurar os novos elementos, como procederam a uma minuciosa limpeza de todas as sujidades que provocavam alucinações. Toda a poeirada narcótica desapareceu, passando a haver uma sonoridade de cara lavada, extrema formalidade pop/rock, que apesar de genuína, representou uma guinada de 180º na musicalidade do projecto. Blindside (2010) foi longe demais, e por aqui, uma escuta chegou para os ignorar durante uns tempos, até que recompusessem as ideias e parassem de fazer de conta que se haviam convertido numa banda heavy-rock-soul sem memória do seu próprio passado. Blindside foi o momento de descaracterização desnecessário que alienou os poucos que ainda os seguiam a gosto. Poder-se-ia dizer que não lhes faltou coragem, mas esticar a corda mais do que o necessário, é sempre uma manobra perigosa.

Dois anos depois, chega a aparente redenção. Superluminal é o pedido de desculpa que alguns exigiam. É o momento em que a nova estética de Sofa Surfers se depara com alguns elementos da primeira vida: a negrura electrónica encontra-se agora com abstracções pop e um renovado exercício de especulação rock, há laivos de dub, algum white noise a preencher o tempo e o espaço e, acima de tudo, voltam a haver canções com alma, pungentes, algumas fantasmagóricas que comunicam com a realidade sufocada com crises, umas mais efémeras que outras. Superluminal cria resistência ao início, há aquele demoroso processo de assimilação que levarão muitos a desistir de vez dos rapazes do sofá; mas para os estóicos, incapazes de se abster da perspectiva de prazer, a recompensa será evidente quando subitamente começarem a trautear as letras enquanto, do trabalho para casa, se depararem encalhados no trânsito ou, outros, estiverem pendurados ao frio à espera do comboio num dia de mais uma greve.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
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