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SpaceGhostPurrp
Mysterious Phonk: The Chronicles Of Spaceghostpurrp
· 11 Jul 2012 · 01:14 ·
SpaceGhostPurrp
Mysterious Phonk: The Chronicles Of Spaceghostpurrp
2012
4AD
SpaceGhostPurrp
Mysterious Phonk: The Chronicles Of Spaceghostpurrp
2012
4AD
PRPL-FNK.
Se um qualquer ouvinte, por acaso, for apenas sabendo o nome das músicas de “Mysterious Phonk” à medida que for ouvindo, é pouco provável que se sinta surpreendido quando descobrir que uma das músicas se intitula “Paranoia”. Pode até nem haver muitas referências a cortinas fechadas, ou esconderijos debaixo da cama. É tudo uma questão de sugestionamento. Quem faz sons desta estirpe, e rima desta forma, pouco provavelmente não saberá que tipo de atmosfera cria.

Em entrevista recente ao suplemento Ípsilon do Público, Spaceghostpurrp dizia querer representar um lado menos aprazível de Miami que não aparece nos folhetos turísticos. Se, no caso de um Snoop Dogg, temos o G-Funk acomo guia para o lado contrário da moeda californiana, em Spaceghostpurrp talvez tenhamos o PRPL-FNK como cartão de visita à cidade do estado da Florida. Já é sabido que o “purple” reduz a velocidade. Própria e da percepção. São raros os momentos em “Mysterious Phonk” em que SGP resolve acelerar a cadência rítmica da sua voz. É bastante mais frequente ouvirmo-lo a sussurrar refrões/mantras/encantamentos como em “The Black God”, “Bringing The Phonk” ou “No Evidence”. Como se estivesse a andar à roda na sua sala de estar, a preparar-se para um combate de vida ou morte. Spaceghostpurrp, aliás, não torna difícil a percepção daquilo que está a dizer, ao contrário do que acontecia nas mixtapes que lançou antes desta sua estreia na 4AD. Não se esperem habilidades ao nível de um Big Boi ou El-P. Spaceghostpurrp vive de um flow pausado, arrastado, um buraco negro sugador de gravidade. Um Burial vocal retirado dos autocarros da carreira nocturna de Londres.

Curiosamente, para quem fala de querer mostrar um lado feio de uma cidade, há mais conversa sobre “inimigos” ao nível da inveja dos talentos de SGP como rapper e produtor (ele produz todas as músicas do disco), do que propriamente relatos de tiroteios e fatalidades. Isto quando não se dedica a várias fantasias sexuais. E a verdade é que ele não está sozinho, sobretudo se pensarmos em como outro aficionado das coisas roxas, A$AP Rocky, também pouco tempo tem para tais casos da vida. Mas se A$AP exibe um humor mais pronunciado, SGP, no fundo, podia ser um membro extra dos Wu-Tang Clan que não deixavam saír de uma sala esparsamente mobilada algures em Shaolin. A sua produção não deixa de ter pontos de contacto com os clássicos de RZA. Ouça-se algumas das notas mais tristes que saem das cordas. Ouça-se o ambiente de falta de sono às 05:30. Os sons de percussão, quer sejam electro-arrastados, ou façam lembrar os beats de “Wamp Wamp (What It Do)” dos Clipse, como em “Osiris Of The East”. E tudo isto sem que percamos a ideia de, a qualquer momento, quem estamos a ouvir, voz e sons, só poder ser Spaceghostpurrp.

“Mysterious Phonk” é algo comum nestes dias de Danny Browns, Action Bronsons, Death Grips, Meek Mills, regressos de EL-Ps e Aesop Rocks, e outros que tais. É uma voz original, carismática e fresca. Prova de que o hip-hop anda em boa fase, e que podemos ter uma saudável curiosidade sobre a próxima voz distinta que por aí vier. Para já, é ligar a luz negra, olhar para o céu nocturno, e deixar que este disco torne o mundo um pouco mais misterioso. E quem não gosta de um bom mistério?
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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