DISCOS
Sylvain Chauveau
Un Autre Décembre
· 25 Ago 2003 · 08:00 ·
Sylvain Chauveau
Un Autre Décembre
2003
Fat Cat


Sítios oficiais:
- Sylvain Chauveau
- Fat Cat
Sylvain Chauveau
Un Autre Décembre
2003
Fat Cat


Sítios oficiais:
- Sylvain Chauveau
- Fat Cat
“Un Autre Décembre” é um desses discos perdidos num tempo que se desfalece rumo ao eterno do infinito. Um fragmento esquecido numa cadência que se confunde com mágoa e apoquentação, onde o piano é um instrumento solitário em busca da essência de uma música que se dispersa em mudez. É persuasivamente descomplexado num ideal que não se revê no caminhar que os acontecimentos globais levam. É a perspectiva de um francês, Sylvain Chauveau, que sem quaisquer conhecimentos musicais busca pelo sentido mais ambíguo e nebuloso da música, ao mesmo tempo que se afasta do seu lado mais prazenteiro. É uma homenagem sentida ao cineasta Robert Bresson (1907-1999), do qual Chauveau herdou o lado mais despojado e minimalista que aplica ao seu trabalho.

Enquanto músico, esquecendo por ora a carreira a solo que conta com três álbuns desde 2001, este francês integrou os projectos Micro:Mega e Arca (que orbitavam em torno de uma ideia de post-rock e Sound Art), numa linha de orientação que passou quase sempre pelas independentes Disques du Sol e Noise Museum, pelas quais, de resto, acabaria mesmo por lançar os seus dois primeiros álbuns. “Un Autre Décembre” é também um disco de mudança nesse campo. Uma apresentação ao mundo pelas portas da Fat Cat, uma abertura de horizontes que muito provavelmente não acarinhará muitos. Mas, como a história já tratou de o demonstrar, nem sempre foram necessários muitos ouvidos para que o rumo dos acontecimentos levasse certos discos e certos movimentos, anos mais tarde, ao reconhecimento por parte daqueles que no seu tempo não cimentaram opiniões mas que a seu tempo trataram de corrigir as coisas.

Sylvain Chauveau explora, mais neste disco do que em qualquer outro que fez ou irá fazer (como ele próprio confessou), o silêncio como elemento integrante de uma concepção criativa que se encarrega de deixar para os ouvintes momentos de desacerto mas também contento. Não se trata, porém, de relegar para um plano menos importante esse silêncio, mas antes assumi-lo como elemento vivo e esteticamente importante. Como se sabe, não há música sem silêncio, e “Un Autre Décembre” mais não é do que um projectar dessa mesma filosofia e elevá-la a planos poucas vezes explorados.

O álbum não necessitou de mais do que três pessoas, com o próprio Chauveau ao piano, Vincent Pouplard no acordeão (que podemos ouvir na música que fecha o disco) e David Mascunan na mistura e masterização. Tudo isto resulta num disco que, apesar de esteticamente coerente, não nos dispensa de alguns momentos mais aborrecidos.
Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net

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