DISCOS
Halloween
A Ãrvore Kriminal
· 17 Out 2011 · 09:37 ·
Halloween
A Ãrvore Kriminal
2011
Sonoterapia


Sítios oficiais:
- Halloween
- Sonoterapia
Halloween
A Ãrvore Kriminal
2011
Sonoterapia


Sítios oficiais:
- Halloween
- Sonoterapia
Hiphop de fina estirpe, amálgama que resulta num todo original e essencial.
A Ãrvore Kriminal: Um disco mais fácil de ouvir do que tirar notas sobre. Desfaçam-se já quaisquer receios de que isto possa ser uma daquelas críticas sobre escrever críticas! Isto acontece porque A Ãrvore Kriminal é um disco do qual não apetece retirar os ouvidos, e que dá vontade de escutar cada palavra até ao final do mesmo. Fazendo lembrar um cruzamento entre muita gente, mas nitidamente sem imitar ninguém, Halloween fez um disco que tanta falta faz numa cena hiphop demasiado obcecada com noções parolas de “autenticidadeâ€, e deu ao hiphop lisboeta aquele que é, muito provavelmente, o seu melhor disco desde a estreia de Chullage.

Curiosamente, não é no rapper infelizmente há muito tempo ausente dos lançamentos oficiais que se pensa em primeiro lugar quando se houve Halloween. Como a Tyler The Creator, não cometerei o pecado de lhe chamar horrorcore. Mas no tom sempre sombrio e ameaçador da produção, e a violência e fluência das rimas, há aqui algo que se assemelha ao portuense Fuse. E podemos continuar pelas semelhanças e diferenças. É a Staten Island dos Wu-Tang Clan, mais concretamente de GZA, Raekwon e Ghostface Killah, sem os jogos de palavras complexos destes. É o gangsta gritado de Young Jeezy, sem a ostentação. São os boom-baps novaiorquinos que formavam discos dos Gang Starr, Jeru The Damaja e Black Moon, sem o lado consciencializante destes. São guitarras nunca usadas para virtuosismo, mas sim para efectuarem um upgrade no conteúdo tenso das letras e ambientes. Dos “maricons†de “Killa Me†àqueles que vivem “como se o mundo acabasse em Santo Adrião†de “O Ódioâ€.

Fale-se das qualidades como MC deste rapper nascido na Guiné-Bissau. Aquilo que mais impressiona em Halloween é o modo contínuo com que passa de um verso para o outro. Se traçássemos um gráfico do seu estilo de rima, talvez fosse parecido com uma curva de Gauss. Ou seja, cada subida está ligada à outra sem quebrar o ritmo. E se isto é um dos factores marcantes do talento do rapper, outro é o facto de não haver aqui músicas que não pudessem ser singles. “Não Há Luz No Meu Quartoâ€, “Drunfosâ€, “Killa Meâ€, “Um Jardim à Beira Marâ€, “Debaixo da Ponteâ€, “Crazy†(o espelho distorcido da “Lisboa Que Amanheceâ€?) são todas de primeira água em termos hip-hop-pop-sem-ser-hip-pop. Os convidados, esses, estão todos em óptima forma, e não fazem desejar que não estivessem ali, como tantas vezes acontece. Sejamos honestos: Não fora Portugal um país estupidamente rockista onde ainda se sente saudades dos tempos em que o Bryan Adams lançou “Summer Of 69â€, e estes seriam hits de dimensão igual aos dos rappers de outros países (não falo nos ingleses, pelo menos enquanto não acabarem com refrões de eurodance imbecil, passe a redundância)!

Num tempo em que Chullage continua sem lançar novo disco, em que Sam The Kid parece andar mais ocupado com os Orelha Negra, em que os Da Weasel saltaram da irrelevância do último disco para a separação, e em que Valete está mais preocupado em ser queixinhas e pregador auto-satisfeito, a voz de Halloween só pode ser extremamente bem-vinda. Aproveitemos o que aqui temos, e brademos aos quatro ventos. Temos aqui um mudafucking clássico!
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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