DISCOS
Girls
Father, Son, Holy Ghost
· 12 Out 2011 · 09:44 ·
Girls
Father, Son, Holy Ghost
2011
True Panther


Sítios oficiais:
- Girls
- True Panther
Girls
Father, Son, Holy Ghost
2011
True Panther


Sítios oficiais:
- Girls
- True Panther
Love me tender? Não, isso é puxado demais para os Girls.
Existe uma línha ténue entre o ingénuo querido e o ingénuo irritante? Não, não existe! Porque há uma enorme zona desmilitarizada, onde o ingénuo é simplesmente chato. Nessa zona, sentimos que gostaríamos que a coisa explodisse de vez. Que, sei lá, aparecesse o Mike Patton a berrar ou o Thurston Moore e o Lee Ranaldo com as guitarras no volume 12. É que este Christopher Owens, mentor dos Girls, é dose para qualquer um que não tenha ficado a dormir desde 1955, e pergunte ao pai porque é que as miúdas se põem aos gritos com o movimento pélvico do Elvis. Não se iludam. Aqui não se passa da mãozinha dada, por isso azar de quem for cínico, como este que vos escreve estas humildes linhas. Owens fez questão de dizer que viveu durante muito tempo sob a alçada de um culto religioso que lhe proibia a audição da música pecaminosa. Ouvindo este disco, pergunto-me se ele já chegou a ouvir. Mas adiante.

Em “Father, Son, Holy Ghost” não se joga apenas ao jogo da inocência. Também nos podemos divertir muito a apontar o jogo do Lembra-Tal. “Honey Bunny” abre logo com uma frase que é “Fun Fun Fun” dos Beach Boys descarada. Só que auto-comiseração que envergonharia uma banda de punk-pop californiana. “Die” é Black Sabbath(?!?!?!?) com riffs que não envergonhariam Tony Iommi, e Pink Floyd mais à frente. Deve ser óptima para acabar concertos com grandes jams, tal como os quase 8 minutos de “Forgiveness”. “Myma” cruza os R.E.M de “New Adventures In Hi-Fi” com o bucolismo acidulado dos Mercury Rev. “Just A Song” termina a lembrar as produções deharmonia celestial de Dave Fridmann para os Grandaddy ou os Flaming Lips. “Love Like A River” é tão doo-wop dos 50s que assusta, e dará para muitos slows em certas discotecas. E “How Can I Say I Love You” seria rejeitada pelos Righteous/Everly Brothers por ser demasiado lamechas.

Como se percebe pela frase anterior, o tema aqui é, basicamente, o amor, ou melhor, a ausência dele. É o amor que proporciona o melhor momento do disco, os 7 minutos de “Vomit”, onde o intimismo vai alternando com jams, sons que encaixariam numa balada dos 80s, Hammonds e mais. É aqui que os Girls poderiam ser uma excelente banda, se à forma como Owens pronuncia as suas sílabas devagar com ênfase nas consoantes (veja-se como ele diz ”baby” em “Vomit”) se juntasse frequentemente a algo que a levasse a tirar os pés do chão. Daí para a frente, é o aborrecimento que ganha por goleada. Tudo parece prolongar-se tempo demais, e o crédito inicial esgota-se muito antes de chegar o fim per se. Acaba por ser um alívio chegar ao fim de “Jamie Marie” e voltar a um estado mais alerta.

O facto de cada uma destas canções ter uma sonoridade de certo modo diferenciada irá beneficiar ”Father, Son, Holy Ghost”. Os Girls darão concertos para públicos entusiasmados, e Owens tornar-se-à uma espécie de porta-voz de muitos corações tímidos partidos, como um dia Stuart Murdoch ou Conor Oberst foram. O problema é se esses corações resolverem um dia que podem: a) procurar as bandas que levaram os sons às suas conclusões ilógicas ; b) Dançar um slow mais apertado sem se envergonharem. Falta sangue a ferver a este amor.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
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