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Gatto Fritto
Gatto Fritto
· 17 Jun 2011 · 10:36 ·
Gatto Fritto
Gatto Fritto
2011
International Feel


Sítios oficiais:
- Gatto Fritto
Gatto Fritto
Gatto Fritto
2011
International Feel


Sítios oficiais:
- Gatto Fritto
Que se foda a chillwave.
Tendo em conta a infelicidade do britânico Ben Williams ao apelidar o seu projecto com um nome tão pavoroso, a única hipótese de chamar alguma atenção externa para Gatto Fritto seria apanhar de surra com alguma das suas malhas num contexto bem veraneante. Aproveitando a transversalidade que um contínuo e pretenso revival da balearic beat possa oferecer numa altura em que o sol, a kösmische, a disco e a boa onda suprema andam por aí a flutuar. Coisa que a uruguaia International Feel tem vindo a fazer com primor, numa altura em que o camp Wolf + Lamb e a Crosstown Rebels fazem desse mesmo pout pourri via para o suor.

Suspenso num espectro harmónico que consegue, sem soar minimamente (es)forçado, abranger o lado mais psicadélico das baleares, o calor da Autobahn, as memórias do Italo-Disco (que podem ser a única explicação para tal nome) e uma sensibilidade loner derivada de alguma IDM cançonetista, Gatto Fritto alinha todas essas linguagens num álbum que, pensado como tal, não resvala para o hit and miss que a longa duração potencia num universo muito dado ao single (e respectiva remix).

Parte dessa coerência interna está assente no próprio MO de Gatto Fritto, que aproveita a linearidade melódica para ir dispondo camadas de batidas, teclas, vozes adulteradas e guitarras num todo continuamente mutável mas cuja progressão segue uma lógica de conforto óbvia e com vista à total eficácia. Dá-se ao luxo de dispensar qualquer artifício experimentalista/avant (como quem tem de fazer da “surpresa” uma ferramenta) para pairar sobre a canção como via para uma hipnose catchy. A consciência tranquila de não arriscar quando tudo flui com um propósito.

Apesar de todas as faixas habitarem num mesmo plano ideológico, existem as necessárias gradações tonais em Gatto Fritto para que não se pense nele como um disco monocromático ou continuamente banhado pelo sol. Enquanto “The Curse” e “Hex” (esta última com um baixo media res a fazer pela primeira vez algo de decente com a “Could You Be Loved”), seguem uma trajectória em direcção à luz, “Grinding The Brakes” vem logo a seguir mergulhar no poço de John Carpenter para se ir aguentando a baforadas de arpeggio. Os Tangerine Dream pós-Tangram (com particular incidência nas bandas sonoras) que vêm fazer de “Solar Flares Burn For You” ou “Beachy Head” algo capaz de se imiscuir com relevância por entre os sonhos electrónicos de alguém como os Emeralds, se estes assumissem uma faceta pop mais descarada.

Coisa que em em Gatto Fritto é escancarada sem pudor de modo mais vincado em “Lucifer Morning Star”, antes da chegada desse épico de verão que é “Invisible College”. Centerpiece de 11 minutos em torno do qual se organiza o álbum e que faz bandeira de todas as qualidades acima citadas numa composição planante que se vai adensando até ao breakdown só para reaparecer novamente numa toada ainda mais breezy. Ou o momento sublime que faltou em Prins Thomas. A verdadeira chillin' vibe que leva a praia ao cérebro sem os filtros da Super 8.

Apesar de não atingir o brilhantismo de um disco como Late Night Boogie de Hot Toddy, Gatto Fritto é uma boa estreia que cumpre de modo mais do que digno o statement de que, muitas vezes, é melhor viver o verão do que sonha-lo com nostalgia. Se perguntarem, digam que é chillwave. Talvez assim seja passível de atenção.
Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com

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