Podemos entrar no estranho mundo dos Za! de três maneiras. A primeira é enfiar qualquer substância psicotrópica no corpo, observar as imagens presentes no booklet que acompanha o disco e esperar que uma qualquer sinestesia induzida faça o resto. A segunda é mandar as roupas para o lixo, expôr-nos ao glorioso Deus Sol e erguer os braços em aclamação enquanto memórias do Rei Leão acompanham "Calonge Terrassa", a primeira faixa com que se entra em Megaflow. A terceira é colocar o CD na drive ou na aparelhagem e ouvir com atenção, mas esta é a solução dos meninos.

No entanto, não se pode dizer que não haja muita meninice (e agora o termo é utilizado de forma não ofensiva) na abordagem do duo espanhol à música. Como uma criança a quem é dado um lote enorme de pincéis e tintas e lhe é dito que pinte o que lhe vier à cabeça, os Za! pegam no hardcore, ou no noise, ou nas batidas tribais de uma África não-tão perdida e criam um caldeirão multicultural capaz de fazer corar os E.U.A.. E o resultado está à vista em Megaflow, tal como esteve em Macumba O Muerte: uma mescla enorme de sons, de melodias e de ritmos capaz de incutir, ao mesmo tempo, todas as sensações possíveis. E agora de volta ao insulto: uma coisa destas não é para meninos.

Pela parte que nos toca, há que fazer a observação natural ao fado arraçado dos primeiros 53 segundos de "Mesoflow", um bonito tributo a uma Barcelos onde estiveram o ano passado para um dos melhores concertos vocês-sabem-de-quê. Mas todo o disco é uma experiência que se deve absorver no seu todo, uma viagem completa da Catalunha a Casamança, com paragens pontuais para um breve contacto com todas as tribos que encontrarmos e circulando sempre com a velocidade ideal. Um verdadeiro safari. E um verdadeiro belo disco.