DISCOS
The Matthew Herbert Big Band
Goodbye Swingtime
· 01 Ago 2003 · 08:00 ·
The Matthew Herbert Big Band
Goodbye Swingtime
2003
Accidental Records


Sítios oficiais:
- The Matthew Herbert Big Band
The Matthew Herbert Big Band
Goodbye Swingtime
2003
Accidental Records


Sítios oficiais:
- The Matthew Herbert Big Band
Herbert é uma personagem singular, genuína, que prima pela autenticidade e por ter definido um estilo e uma técnica que domina por completo, com o mérito de a moldar em variados registos ou abordagens, desde o house orgânico de “Bodily Functions” à destruição de Dr. Rockit. Sempre com a particularidade de as suas obras se demarcarem totalmente de quaisquer outras, graças a um cunho pessoal indisfarçável e impossível de confundir. Tudo isto coloca-o na linha da frente, onde estão os músicos a quem pedimos revoluções, obras-primas, talvez mesmo na linha do culto…

Herbert é também um idealista - sonha criar um país virtual (numa “inocente” utopia) regido pela imaginação e criatividade, despojado de limites e barreiras. Evidentemente, as suas obras reflectem este idealismo. Imaginou uma nova abordagem às big-bands, num álbum em que o jazz (por sinal a sua escola musical) toma definitivamente o papel principal, papel esse que nos anteriores álbuns surgia mais diluído.

Diz o próprio autor que as suas criações surgem maioritariamente do acaso, qual geração espontânea numa mente aberta. Este projecto tem início com um pedido para a concretização de uma banda sonora de um filme de hip-hop, pedido que acaba por não se concretizar, devido a uma mudança de opção da directora do filme. Ao invés, surgem temas associados à época das big-bands. Espontaneamente Herbert imagina-se como director de orquestra: como principal obstáculo tem o facto de os músicos o olharem com alguma desconfiança, visto vir de um mundo que à partida poucas relações terá com o jazz. Mas essa desconfiança cedo se desvanece, acabando Herbert por conseguir que a banda toque uma musica inteira - “Fiction” - com barulhos das cadeiras e partituras, ou mesmo que as notas mais prolongadas sejam substituídas por cadeiras arrastadas.

Daí que esta seja uma big-band à sua maneira, com todos os seus tiques, conseguindo que os músicos se libertem de um certo sentido clássico, e lhe forneçam toda a matéria-prima sob a qual constrói, destrói, cola, descola, rompe, repara, descontextualiza as big-bands, para as recontextualizar numa dimensão electrónica. Destaca-se a variedade sonora, não havendo repetições de sons, ritmos sequer, numa transcendente capacidade de criação. O ambiente é emotivo, lúdico, por vezes político, podendo rapidamente descair para o pop, do qual ainda mais rapidamente se desvia em dissipações electrónicas.

Inicia-se com um voz (“here it comes”), quem sabe anunciando a chegada do elemento estranho, e rapidamente somos transportados para os anos 50, mas algo esquisito se passou no rumo natural dos acontecimentos. Os “microsons herbertinianos” viajaram no tempo, transformando a história… Uma ficção, retratada por Arto Lindsay, ritmos dementes que derivam para sons quase idílicos, batalhas entre saxofones, cornetas, baixos e guitarras, lutando por um lugar primordial, mas acabando em plena harmonia.

Pedaços de história longínquos, cortados e colados lado a lado num trabalho arrojado, inventivo, quem sabe se numa resposta aos seus seguidores (Akufen e Parnell), mostrando a extraordinária capacidade de utilizar características muito específicas e obter uma criação verdadeiramente original.

Herbert promete uma álbum de R&B, e como será o R&B à moda de Matthew Herbert?
Miguel Marques

Parceiros