DISCOS
Nostalgia 77
The Sleepwalking Society
· 05 Mai 2011 · 10:09 ·
Nostalgia 77
The Sleepwalking Society
2011
Tru Thoughts


Sítios oficiais:
- Nostalgia 77
- Tru Thoughts
Nostalgia 77
The Sleepwalking Society
2011
Tru Thoughts


Sítios oficiais:
- Nostalgia 77
- Tru Thoughts
Novo e surpreendente? Não. Um disco sem novidades mas seguro da sua essência? Sim. Eis como a sabedoria e a experiência devolvem o prazer de ouvir música.
Ben Lamdin, tal como Will Holand (Quantic), é um produtor prolífico. Com uma pequena diferença: Lamdin é menos conhecido. Nada disso lhe retira proficiência na hora de dedicação à sua arte. Nostalgia 77 é o seu acto com mais projecção. Mas a sua actividade enquanto produtor e músico tem passado também pelo seu octeto – numa frente concebida essencialmente para live performances –, em colaborações com Keith e Julie Tippett, Lizzy Parks, tendo patrocinado na sua própria e recém formada editora, a Impossible Ark, Sara Mitra, Jeb Loy Nichols e Skeletons. Trabalho não lhe tem faltado nestes últimos anos. Assim se justifica que apenas agora tenha editado o quarto disco de estúdio enquanto Nostalgia 77.

Sucessor do encantador Everything Under the Sun de 2007, que ressoava beleza nalgumas das mais interessantes esquinas do jazz – de The Cinematic Orchestra a Koop, de Miles Davis, Chares Mingus a Sun Ra –, The Sleepwalking Society, uma vez mais com distinto selo de qualidade da Tru Thoughts, é o decidido início de uma nova etapa no projecto Nostalgia 77. Sem abandonar por completo as características premissas do jazz light com apelo pop – não há aqui qualquer tom pejorativo –, The Sleepwalking Society abre agora a ventarola sonora a estímulos exteriores, permitindo uma injecção perfeitamente natural – não muito distante das experiências de Jason Swinscoe no último disco dos The Cinematic Orchestra – de cromossomas folk e blues numa matriz que teria – forçosamente – de evoluir para além dos maniqueísmos modernaços do chamado nu-jazz – há muito num cafarnaum pouco estimulante.

Num disco orgânico que permite a natural fluidez da narrativa, somos eloquentemente escoltados pelas belas vocalizações da alemã Josa Peit. Há um aroma soulful, doce e primaveril a pairar em The Sleepwalking Society num tom a discorrer ocasionalmente fantasias cinematográficas. Há um palmilhar aligeirado, mas ponderado, nas dissertações sobre as "coisas" da vida (amor, tristeza, esperança, alegria, frustração) havendo até sugestão para um acordar de um sonambulismo induzido pela rotina do quotidiano. Não sendo um registo surpreendente, é suficientemente seguro do mise-en-scène com que nos enche o olho. Uma firmeza consequente de uma composição e orquestração cada vez mais madura, certeira, arejada e definitivamente menos obstinada com a sua eficácia em palco. Uma autoconfiança que Lamdin agora expõe sem reservas. The Sleepwalking Society não marcará o futuro, mas deixa uma marca bem simpática no presente.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
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