Aos poucos e poucos vão saíndo do esconderijo os hip-hop-headz que, sob o manto do chavão underground, têm alimentado um movimento cuja magnitude e crescente maturidade começam a forçar as correntes que o prendem ao desconhecimento geral. Cingindo-nos à nossa realidade intra-muros, parte relevante do mérito na expansão nestes terrenos das batidas urbanas diz respeito às edições cada vez mais ambiciosas de editoras como a Loop e a Matarroa, esta última envolvida no lançamento do disco de Fidbek, Erro Musical.

A Matarroa enquadra-se numa novel geração de editoras independentes. A aposta numa estratégia de diferenciação que se traduz em pormenores como as caixas dos cd’s (cada disco surge dentro de uma verdadeira obra de arte) e os eventos especiais de lançamento e promoção durante os quais é possível a aquisição dos discos a preços quase simbólicos é suportada por um enorme amor a uma causa e a um movimento pelos quais – e para os quais - se vive.

Erro Musical é, então, a segunda aposta da editora que se estreou há bem pouco tempo com 100 Insultos, disco da dupla Infamous&VRZ que abordámos aquando do seu lançamento.
Fidbek apresenta-se como um MC dotado de uma voz agradavelmente melódica – apesar de, por vezes, recorrer em demasia ao seu estilo intrinsecamente cantante – e apurada, complementada com um flow interessante. As suas letras são suficientemente vagas e metafóricas para fazer de Erro Musical um disco pouco imediato, ao mesmo tempo que lhe conferem uma riqueza e uma renúncia ao lugar-comum nem sempre presentes em trabalhos da mesma espécie. Algumas rimas e frases são revisitadas e reutilizadas em diferentes pontos do disco, criando como que elos de ligação entre as várias faixas que contribuem sobremaneira para o fortalecimento da mensagem que Fidbek faz passar.

Após algumas audições minimamente atentas não é difícil identificar momentos especialmente interessantes e inspirados. Contudo, parece-me discutível que “Onde Andas?� - a escolha para o teledisco – seja um deles. Certamente terá vencido o carácter simples e directo da mensagem, em detrimento de um punhado de outras faixas mais trabalhadas e interessantes, nas quais a própria voz de Fidbek acaba por surgir em melhor plano.

Um pouco por todo o disco se encontra a marca de DJ Bezegol, de VRZ (que se encarregou com louvor da produção de grande parte das músicas) e a voz de Martinêz, que vai fazendo uma perninha nos diversos lançamentos Matarroeses enquanto não sai o disco dos seus Matozoo.

Muito longe de fazer jus ao seu título, o disco de Fidbek testemunha ideias apreciavelmente amadurecidas – não é, claramente, fruto isolado de um dia de inspiração. Merece a pena conhecer.