DISCOS
PJ Harvey
Let England Shake
· 22 Fev 2011 · 23:00 ·
PJ Harvey
Let England Shake
2011
Vagrant


Sítios oficiais:
- PJ Harvey
- Vagrant
PJ Harvey
Let England Shake
2011
Vagrant


Sítios oficiais:
- PJ Harvey
- Vagrant
Disco novo, música nova. PJ Harvey, irrequieta como sempre, assina mais um excelente disco de canções onde cabe tudo e mais alguma coisa - até folk.
Polly Jean Harvey sempre teve uma alma irrequieta, dada a mudanças repentinas, permeável a uma data de elementos e condições pouco controláveis – não fosse ela uma espécie de força da natureza, uma cápsula de mutação. Let England Shake leva essa sua característica um passo em frente e, felizmente, ao mesmo tempo, para um sítio muito interessante. O regresso de PJ Harvey é de certa forma revigorante. Surpreendente, Let England Shake é um álbum de paz; não há mais raiva daquela forma, não há mais fúria incontrolável (que se manifestou sempre mais pelo conteúdo do que pela forma). Não parece haver nem sequer dor que não possa ser resolvida. O que há? Amor à sua Inglaterra, um certo apreço pela música folk (constante ao longo de todo o disco), às cantigas do seu país e um disco meio político, meio interventivo. E, não raras vezes, canções enormes, com uma palete sonora - rica, desenvolvida, diversa - que só pode ser resultado de muito trabalho, muita procura, muito desejo.

“Let England Shake”, vespertina, indica logo que tudo mudou. Algo desajeitada nas suas intenções, avança de forma contida com guitarras lânguidas, percussão esparsa e aquilo que parece ser uma marimba. E aqui percebe-se que até a voz de PJ Harvey mudou; mais controlada e ao mesmo tempo arriscada, continua a passar a mensagem na íntegra. PJ Harvey continua a ter fantasmas na sua vida (como a guerra, tema recorrente neste disco), mas aprendeu que a forma mais correcta de os afastar é dar-lhes o braço seguindo a velha máxima do “se não consegues derrotar os teus inimigos, junta-te a eles”.

Em canções como “The Last Living Rose”, tão doce como o seu título sugere, “The Glorious Land”, maravilhosamente atravessada por guitarras penetrantes e um “toque de corneta” que relembra batalhas e um certo patriotismo ou “On Battleship Hill”, onde mostra todas as suas qualidades vocais e abre mão de um piano maravilhosamente celestial, PJ Harvey consegue a melhor saída possível de White Chalk e A Woman a Man Walked By, a meias com John Parish, que neste Let England Shake assina também importante trabalho. Resumindo e quase concluindo: PJ Harvey parece ter assinado um pacto de não-agressão consigo mesma (ouça-se a beleza desarmante de "Hanging In The Wire"); as canções contêm menos agressividade, vivem da calma e da contenção, chegam quase a ser pastorais; e, algo surpreendentemente, isso parece resultar a seu favor nesta altura. Parece que Polly Jean Harvey fez finalmente as pazes consigo mesma. E os resultados não podiam ser melhores.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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