Músico: Para o que nos interessa a nós, melómanos, Joe (ou Johnny) Flynn é, antes de mais, cantautor. Been Listening deve, assim, ser visto primeiramente como um disco de canções. Nesse campo, há que dar destaque a temas como "Churlish May", com um baixo assumidamente dub a marcar pontos, a valsante "The Water" (com a presença da Bela, B maiúsculo, Laura Marling), e "The Prizefighter And The Heiress", isto só para enumerar algumas de um disco com raízes assumidamente folk, mas longe do tradicional formato "um homem e a sua guitarra"; de facto, Johnny Flynn não está só - os Sussex Wit acompanham-no nesta viagem e é uma tremenda injustiça que não vejam o seu nome associado à capa do álbum. E trouxeram arranjos belíssimos, servindo-se de banjos, trompetes, violinos - enfim, tudo o que está na moda gostar hoje em dia.

Poeta: É uma relação amor-ódio com a de cantautor, já que há considere que um não pode ser o outro e vice-versa. O próprio Flynn parece aludir a esse confronto, quando refere no início de "Been Listening" que The song's a thing / And this one's thin. Mas a verdade é que há poesia nas suas canções. Seja a história contada em "Sweet William", o refrão de "Agnes" ou esta passagem na já referida "The Water: The water can't drown me, I'm done with my dying. Não será Flynn o novo Yeats, aludindo a uma das suas influências, mas é certo que há aqui coisas muito boas.

Actor: Para além das experiências musicais, Flynn tem no seu currículo participações em peças de Shakespeare e em pequenas séries de TV. O que levanta a questão - questão essa, aliás, apresentada em várias outras críticas aos seus discos: até que ponto Flynn estará a ser honesto nas suas canções? Até que ponto a sua voz quer mesmo dizer o que canta? Não nos parece que Flynn imite alguma coisa. Basta ouvi-lo para ficar sem essa sensação; a emoção não se imita tão facilmente quanto se possa julgar, nem mesmo para um actor. Além disso, um tipo que é amigo chegado de Robert Pattinson não poderá ser nunca um bom actor. É como um vírus infeccioso.