Certo seja que à primeira vista a introdução soe como uma crítica. Na verdade, se a música dos Low Anthem estivesse refém d'A Origem Das Espécies e da selecção natural para poder sobreviver, há muito que teria sido extinta virtude de outros predadores mais fortes dentro do habitat da Americana. À banda parece faltarem-lhe argumentos para que possam subsistir de forma natural e conquistar o seu espaço entre antropólogos. Porém, não é de Darwinismo que devemos falar ao abordar Oh My God, Charlie Darwin. Paradoxo?

Os Low Anthem podem gostar muito de Darwin, mas é Deus que lhes guia as passadas. O tema-título pode (e vai) afastar alguns não-crentes ligeiramente fanáticos, com o falsete de Ben Miller a marcar uma composição simples e pastoral (vulgo "choninhas"). Mas repare-se como o poder do divino se interpõe ao dotar o mesmo vocalista de uma voz embargada pela joie de vivre tipicamente sulista (estereótipo positivo) em "The Horizon Is A Beltway": Tom Waits passou por aqui, viu que era bom, e pediu ajuda ao seu amigo de cima para que os Low Anthem pudessem durar mais uns milhões de anos. E como se não bastasse, ainda permitiu que fizessem de "Home I'll Never Be" um manifesto contra as vicissitudes da vida e não uma lamentação profunda. (As propriedades messiânicas de Waits serão abordadas em futuras publicações.)

Oh My God, Charlie Darwin é um álbum suficientemente bom para que não sofra do estigma de ter de ser lançado independentemente (como, aliás, o tinha sido antes da Nonesuch e da Bella Union lhe pegarem). "Ticket Taker" e "(Don't) Tremble" são belas canções. "Cage The Songbird" é o resumo de todo o disco: Darwin tem razão, mas há maior felicidade em ser acorrentado a um Deus. Mesmo que não prove nada dentro da folk, prova que o creacionismo não morrerá tão cedo. In your face, Zaratustra.