DISCOS
Gorillaz
Plastic Beach
· 15 Mar 2010 · 12:16 ·
Gorillaz
Plastic Beach
2010
Parlophone


Sítios oficiais:
- Gorillaz
- Parlophone
Gorillaz
Plastic Beach
2010
Parlophone


Sítios oficiais:
- Gorillaz
- Parlophone
O trabalho mais versátil da banda "abonecada" significa, por isso, o mais completo até agora. Será este o momento da consagração dos Gorillaz?
Há quem não saiba o que lhes chamar. “Banda”, “projecto”, “banda virtual”, entre diversas terminologias que mais não são que puras etiquetas ao serviço daqueles que se entretêm com quaisquer outras coisas que não a música. E os Gorillaz merecem mais que isso. Vistos como o grande refúgio de Damon Albarn desde que se lançaram, em 2001, depois dos anos dourados dos Blur (ainda existentes na altura), desde então têm-se afirmado como uma constante lufada de ar fresco a cada disco editado. Foi assim com o homónimo Gorillaz, em 2005 com Demon Days e Plastic Beach, acabado de sair, não foge à regra.

Sejamos honestos. Depois de dois discos absolutamente incontornáveis nos últimos dez anos, os Gorillaz tinham que apostar forte nesta cartada. Carregavam um fardo demasiado pesado para deitarem tudo a perder. E não vacilaram quando chegou a hora do all in. Muniram-se, em primeiro lugar, das melhores companhias - Snoop Dog, Mos Def, De La Soul, Lou Reed, Mick Jones e Paul Simonon, isto para não maçar mais o leitor, porque não foram todos lembrados. Cada um destes convidados é insuspeito no género musical em que se movimenta, parece-nos incontestável. Decorrente disso (ou não), os Gorillaz investiram igualmente em sonoridades inovadoras, quer através de orquestrações que não fariam Mahler bocejar, quer através de resquícios ainda vivos da participação de Albarn em The Good The Bad And The Queen, num ambiente mais leve do que aquele a que nos foram habituando nos anteriores registos.

Podemos dizer, à semelhança de Mário Lopes no Ípsilon, que não há uma faixa com o poder de “Dare”, “Feel Good Inc” ou “Clint Eastwood”? Podemos. Mas isso permite abrir portas a temas mais inesperados que, não sendo hits dignos da maravilhosa MTV (cuja sigla já nem integra a palavra música), se revelam superiormente versáteis. É pura qualidade musical, de composição e de produção. Isso ninguém lhes tira. Comparem-se as faixas “Cloud Of Unknowing”, com Bobby Womack e “Glitter Freeze”, abençoado pelas palavras de Mark E. Smith, dos The Fall. Na primeira, a voz comanda o tema, numa mistura óbvia de soul e deliciosas orquestrações com violinos e oboé em destaque. O digital também não falta, criando ambiências maravilhosas em torno da voz do cantor americano. Já a segunda é a grande malha electrónica do disco. Uma batida simples e nunca fugindo do ritmo base é acompanhada por um sintetizador grave dançando em oitavas e outro, numa tonalidade esganiçada que oscila em glissandos. Apesar de representarem a bela e o monstro de Plastic Beach, respectivamente, valem mais que isso. São demonstrativos da polivalência musical dos Gorillaz, da sua fácil e sobretudo genuína adaptação a qualquer género.

É caso para dizer que os tipos não se encontram ligados à máquina – tanto no panorama musical como cardíaco. Este disco é tão versátil como consciente e isso mostra como o grupo consegue ainda preencher espaços vazios no que diz respeito à sua sonoridade. Por essa razão, Plastic Beach é um passo em frente, talvez o trabalho mais pop desde que se deram a conhecer. Mas quem julga que o precipício está já ao virar da esquina engana-se. Esta malta ainda tem muito para dar.
Simão Martins
simaopmartins@gmail.com

Parceiros