DISCOS
Dâm-Funk
Toeachizown
· 11 Fev 2010 · 13:05 ·
Dâm-Funk
Toeachizown
2009
Stones Throw / Flur


Sítios oficiais:
- Dâm-Funk
- Stones Throw
- Flur
Dâm-Funk
Toeachizown
2009
Stones Throw / Flur


Sítios oficiais:
- Dâm-Funk
- Stones Throw
- Flur
Damon Riddick destapa o velho foguetão do amor e lança-se, sem receios, no espaço funk. Senhora e Senhores, o bom velho boogie está de volta.
Uma das perguntas que se levanta perante Toeachizown é por onde passa a modernidade neste disciplinado e retórico exercício funk que tanto invoca Prince como George Clinton? Erguido com o recurso a velhas caixas de ritmos e antigos sintetizadores resgatados de um qualquer mostruário de antiguidades, o disco de estreia de Dâm-Funk é no mínimo uma curiosidade difícil de resistir tal é a forma como é libertado o espírito festivo de um funk eléctrico que se julgava perdido desde que o hip-hop lhe roubou o protagonismo em meados de 80.

Alcunhado como o embaixador do novo boogie ou do novo electro-funk – e sabe-se lá que mais terminologias já foram inventadas –, o californiano Damon Riddick não pode deixar de reclamar para si esta súbita, ambiciosa e pertinente operação revivalista que destapa a velha nave do amor que transportou no seu "útero" a alma das velhas lendas (Parliament-Funkadelic). São anos-luz de bom groove e aveludado pastiche psicadélico que Dâm-Funk percorre num duplo disco que sabe canalizar para combustível as poeiras cósmicas perdidas no tempo e no espaço.

Soltam-se os ritmos sintéticos – mas determinados em soar orgânicos –, melodias cintilantes, vocoders melancólicos, esferas retro-futuristas – sobrepostas umas sobre as outras –, falcetes pesarosos, delírios psicadélicos e muita sensualidade na alumagem do foguetão que Dâm-Funk conduz com invulgar sabedoria e eloquência. Foguetão que, além do pormenorizado mapa de todos os quadrantes do espaço funk, desconfia-se que tenha como vocação secreta a viagem no tempo, tal as nostalgias que consegue despertar.

As memórias de outros campeonatos sonoros pululam, muito especialmente para quem sabe que por aqui não se inventa (quase) nada que os mestres da guitarra-piano não tenham explorado há mais de 25 anos atrás. E no entanto aí reside o encanto de Toeachizown: mesmo não se inventando nada de substancial, há no electro-funk desta música – apaixonada consigo mesmo – algo de intrinsecamente rejuvenescido, aberto a estímulos de tipologias que actualmente também lhe devem alguma reverência e glamour (soul, r&b e hip-hop). Toeachizown é numa longa depuração sonora, onde se renova a energia e a força anímica do género, como que a relembrar à modernidade – que percorre estes "guetos" com discrição – que também necessita abrandar o ritmo para não perder a sua essência em excessos inúteis. E nada como reviver agora momentos passados para ter novas perspectivas de futuro. Muito bom.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
RELACIONADO / Dâm-Funk