DISCOS
Cristina Branco
KRONOS
· 27 Nov 2009 · 19:10 ·
Cristina Branco
KRONOS
2009
Universal


Sítios oficiais:
- Cristina Branco
- Universal
Cristina Branco
KRONOS
2009
Universal


Sítios oficiais:
- Cristina Branco
- Universal
Cristina Branco canta sobre o tempo que um conjunto de grandes autores criou para ela.
O reencontro de Cristina Branco com as edições discográficas com músicas próprias nasceu de uma congregação luxuosa de compositores, cantores ou autores, na sua maioria, convidados a versar sobre o tempo. Esse tempo que marcou que o colaborador de sempre Custódio Castelo rompesse com Cristina Branco o cordão que alimentou a união que atingiu o auge em Ulisses, o disco de 2005 que arriscamos dizer ser um dos marcos da música portuguesa desta década que se aproxima vertiginosamente do início da próxima. Kronos não tem , muito dificilmente poderia ter, a mesma força daquele Ulisses pungente que nos fez pôr ainda mais os olhos desta cantora de fado-não-fado com voz de querubim. Sabe-se que não volta mais um tempo que passou, mas Ricardo J. Dias foi a pessoa ideal para os arranjos e algumas composições, e não se pode crer noutra coisa tendo em conta estas novas canções.

“Trago um Fado” é Cristina Branco vintage, com base num poema de Manuel Alegre e cuja interpretação pode ser uma acha para esse debate abrasivo sobre os rótulos que atribuímos às fadistas de raça ou às que têm os olhos no fado e a cabeça um bocadinho mais além. Sérgio Godinho é o melhor compositor vivo da música portuguesa e “Bomba-Relógio” tem o carimbo branco que marca a sua autoria mas que deixou espaço de manobra a Cristina Branco para que se transformasse já num dos temas iconográficos da sua discografia. “Margarida” é dueto para vozes de dois géneros, o que exigiu a presença de Jorge Palma. É bonito o poema de Álvaro de Campos nesta composição que Mário Laginha fez originalmente para um concerto de Camané no São Luiz.

Há muito mais e é pena só que seja irregular, ao contrário do que se passou em Ulisses. Não há motivo para rasgar as vestes perante as escolhas que Cristina Branco fez nos convites que dirigiu para a composição dos temas. Entre os supracitados e ainda Amélia Muge, José Mário Branco ou João Paulo Esteves da Silva, não falta nada para potenciar este sortilégio do toque de Cristina Branco (ou talvez falte Fausto, que declinou o convite por falta de tempo). Kronos podia ser ainda melhor, mas ninguém fica insatisfeito com estas que são mais de um milhão, uma legião, um carrilhão de horas vivas.
Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net
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