DISCOS
Girls
Album
· 25 Nov 2009 · 17:41 ·
Girls
Album
2009
Fantasy Trashcan / Turnstile Music / Edel


Sítios oficiais:
- Girls
- Turnstile Music
Girls
Album
2009
Fantasy Trashcan / Turnstile Music / Edel


Sítios oficiais:
- Girls
- Turnstile Music
Grau doce de intemporalidade e canções, luminosidade e simplicidade. A estreia dos Girls é uma agradável surpresa e um óptimo conjunto de canções.
As miúdas sempre foram um bom pretexto para escrever canções. Há por aí Ritas, Madalenas, Mafaldas, Anas e Catarinas suficientes para escrever uma enciclopédia musical sem empurrar demasiado a barra, sem parecer demasiado forçado. Os Girls escrevem sobre miúdas e de tudo o que à volta delas gravita. Falam do desejo e do luxo da vida, da Laura, de uma boca verdadeiramente fantasmagórica, de dores de cabeça, dos tempos do verão, da Lauren Marie, da luz da manhã, de cabelos encaracolados. São fiéis à pop, vão ao encontro da luz e pelo caminho escrevem algumas grandes canções. A paixão que daqui possa advir não é nada mas nada alheia à produção do disco, que embrulha estas 12 canções numa condição lo-fi de que nunca se chega a desprender do seu objecto até ao final – e ainda bem.

Os Girls só prometem pop descomprometida e sem artifícios, sem corantes nem conservantes – e está bem assim. Album não é um álbum surpreendente; pelo menos não no meio desta acelerada fruição musical dos dias de hoje. Mas, quando isolado, é possível descobrir-lhe encantos que manam não só do seu interessante grau de frescura mas também devido à sua qualidade despretensiosa. A forma como vão aos anos 60 e 70 resgatar alguma da melhor pop da altura para devolvê-la no seu estado quase puro e dotada de uma certa actualidade – muitas vezes sobrevalorizada – é o seu ponto mais forte. Em vez de se desdobrar numa multiplicidade de recursos, Album aposta naquela fórmula dos sumos em polpa: tudo mais concentrado para uma fruição mais longa e prolongada. E surpreendentemente, resulta.

O tropicalismo de “God Damned” é apenas um dos muitos momentos altos de Album. Mas depois há a doçura luminosa “Hellhole Ratrace”, perdida em jorros de melodia e boquiaberta com a beleza do mundo. Há muitos bons motivos para deixarem repeat “Lust for Life” (o senhor Iggy Pop nada tem a ver com isto), numa road trip entre o emprego e o lar, por entre jogos de luzes e buzinas que lembram a loucura em que vivemos. Este é um disco para hoje. Para o agora. Tem uma certa urgência de reclamar a simplicidade – e textos de uma melancolia comovente. A esperteza de “Lust for Life”, a felicidade cansada e o desejo de amor em qualquer das suas formas identificadas/fabricadas/imaginadas (riscar o que não interessa) de “Laura” (dolorosamente bela), e o disco no seu todo, merecem o acompanhamento com palmas e a chegada do sol. Apostemos desde já que este disco pode sair todos os Verões da toca nem que seja para dar ares da sua graça. Este Album merece, a sério. Por ora é “apenas” um dos melhores discos do ano.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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