Não se sabe muito bem porque motivo levou tanto tempo a elaborar um novo disco; pensar numa nova estratégia de gestão do seu estilo não foi certamente o objectivo imediato. Quatro anos depois, Vitalic regressa basicamente à mesma fórmula que fez de OK Cowboy um dos mais estimulantes discos de música de dança de 2005 e tornou o nome do francês um dos mais aclamados produtores do ano.

Em Flashmob as enxurradas enraivecidas dos sintetizadores mantêm-se rudes, robustas e essenciais para que tudo funcione de forma proficiente. Os ritmos mantêm-se firmes na marcação da cadência, ditando as regras elementares da dança com eficientes choques eléctricos no corpo. As feromonas do electro-pop de 80 sentem-se na proporção desejável para que a viagem seja devidamente recompensada com a mais desusada sensualidade. Os Daft Punk continuam a ser uma referência enquanto a irreverência ordinária dos Justice continua a justificar a sujidade colocada propositadamente sobre a pureza da melodia.

Desistir de Flashmob à primeira é um erro, mesmo que por aqui não haja aparentemente nada de novo, que tudo soe a um recalcamento instantâneo de álbum debutante. Um erro que ocultará, por exemplo, o apelo genuinamente pop deste disco. Uma pop electrizante que ignora a ressaca que o reboliço electro-clash lhe provocou sem piedade nem remorsos em OK Cowboy. E sim, aqui reside a simpática diferença que faz desta sequela de Pascal Arbez uma doce tentação. Não será suficiente para erguê-la ao estatuto da excelência (também há alguns empata-fodas por aqui), mas ignorar as idiossincrasias que caracterizam o som deste gaulês pode ser também ignorar temas que estão bem acima da mediania com que somos bombardeados constantemente.

Mergulhe-se no frenesim melódico dos sintetizadores de "See The Sea", "Flashmob", "Second Lives" ou "Your Disco Song" para que se pare tudo o se estava fazer e de imediato ficarmos hipnotizados pelas cores berrantes do mais invulgar caleidoscópio virtual, para não falar da fervura com que ficamos nas orelhas, tal a eficiência da acidez aplicada no composto químico base. O desejo de ouvir o disco várias vezes apodera-se, mesmo que tenhamos a consciência que esse prazer seja efémero e desapareça ao fim de uma semana. Flashmob é curto e directo na viagem que faz ao nosso sistema sensitivo central. Meia dúzia dias bastará para redescobrir as virtudes de Vitalic. Depois disso até poderemos nunca mais tocar neste disco, mas a experiência ficou registada e foi lasciva.