Dos Ultralyd aos Crimetime Orchestra, o saxofonista Kjetil Møster tem espalhado terror com o seu sopro rugoso. Neste novo projecto chamado Trinity o saxofonista junta-se a outras três figuras de relevo do jazz nórdico contemporâneo: Morten Qvenild (teclados), Ingebrigt Haker-Flaten (baixo) e Thomas Strønen (bateria). Morten Qvenild passou pelos Jaga Jazzist e é fundador do trio In the Country. Ingebrigt Haker-Flaten é membro dos The Thing (com Mats Gustafsson) e dos Atomic, além de desenvolver várias colaborações com Ken Vandermark. Thomas Stronen colabora com os projectos Food e Humcrush.

Deste quarteto nasce uma música costurada dentro dos parâmetros do free jazz, dando especial ênfase às electrónicas. O quarteto improvisa com apurado sentido colectivo, numa música que balança entre pólos contrastantes: ora explorando nuances paisagísticas, ora irrompendo em violentas erupções sónicas. Longe de regras ou limites, a música dos Trinity incarna o melhor que a livre improvisação tem para oferecer, quer pela qualidade dos instrumentistas quer pela dinâmica do envolvimento colectivo.

O disco abre numa toada ambiental, com os instrumentos a assumirem uma postura tranquila, desvendando o poderio sonoro mais para o final da faixa. Ao segundo tema regressa a calma, que no terceiro tema já foi esquecida: descarga bruta, à boa maneira dos Borbetomagus. Para o final fica guardada a “piéce de resistance�: “Breaking Them Old�, tema de cerca de trinta minutos, onde o quarteto navega livremente, viajando desde as controladas maresias ambientais até às bem-vindas ondas explosivas de energia. Este novo disco da Clean Feed será um dos volumens menos convencionais do seu magnífico catálogo, mas é seguramente dos mais incendiários.