DISCOS
Conor Oberst and The Mystic Valley Band
Outer South
· 15 Jun 2009 · 19:26 ·
Conor Oberst and The Mystic Valley Band
Outer South
2009
Merge / Wychita / Nuevos Medios


Sítios oficiais:
- Conor Oberst and The Mystic Valley Band
- Merge
- Wychita
- Nuevos Medios
Conor Oberst and The Mystic Valley Band
Outer South
2009
Merge / Wychita / Nuevos Medios


Sítios oficiais:
- Conor Oberst and The Mystic Valley Band
- Merge
- Wychita
- Nuevos Medios
O que se passa no México devia ficar no México.
Para o melhor e para o pior, Conor Oberst é um caso evidente de muito em muito pouco tempo. Chamam-lhe o “prodígio de Omaha” precisamente devido à regularidade na escrita de canções. Essas que tem vindo a distribuir por diversas bandas e projectos secundários desde os catorze anos. Durante grande parte dos últimos 10 anos, o mundo reconheceu-o como Bright Eyes: cantautor de emoção à flor da pele; cronista recorrente de romances universitários. Em 2007, a colecção de raridades e o inevitável registo ao vivo vieram, de alguma forma, fechar um ciclo Bright Eyes. Antes disso, houve tempo para quase tudo: a revelação, dois álbuns lançados no mesmo dia, o disco de natal, os splits, dezenas de versos seus reproduzidos em diários virtuais mantidos por quem admira a sua franqueza. Conor Oberst chegou agora ao ponto de estar no lugar do homem, que, depois de ter dado a volta ao mundo três vezes, vive apenas interessado pela banalidade. Emaranhado nessa banalidade, Outer South é, desde logo, um pesado ponto a favor dos detractores de Conor Oberst – soa demasiado a jogo para cumprir calendário, depois do campeonato estar ganho.

No papel, o plano até parece talhado para o sucesso: Conor Oberst e um grupo de amigos (a Mystic Valley Band) rumam ao México (o Outer South do título) com a vontade de gravar um disco favorecido pelo fôlego e frescura de quem está arredado do compromisso Bright Eyes (sinónimo de canções amargas). Na prática, o resultado equivale a um Saltillo à americana: Outer South é pouco menos que desastroso na sua filosofia de tudo ao molho e fé na inspiração da santa trindade Bob Dylan, Bruce Springsteen e Neil Young. Como novidade indesejável, temos até direito a um elenco de vozes (duas delas são horríveis) que alternam com a de Conor Oberst na capitania de temas que não servem sequer como feel good hit of the summer.

Tal como acontecia nos concertos de Cat Power com a Dirty Delta Blues Band, sobra a sensação de que a maior fatia do bolo de gozo cabe à banda e não ao público. A verdade é que não é assim tão divertido escutar Conor Oberst enquanto desbunda com os amigos. A tentativa chega a ser penosa, quando Outer South encalha na inutilidade country-rock de “Difference is Time”, no intragável billy-qualquer-coisa de “Snake Hill” ou nas inúmeras tentativas de reavivar Dylan com meios perfeitamente generalistas. O oásis no meio do deserto chega com “White Shoes” e aí voltamos a saber que Conor Oberst é capaz de lindas canções, mesmo quando limitado a guitarra e voz (o seu pão e manteiga). Mas até “White Shoes” parece desenquadrada num disco de pândega. Além do mais, “Lua” (de I'm Wide Awake, It's Morning) permanece soberana entre as baladas para dois corações inadaptados.

É também sabido que Conor Oberst sempre inspirou relações de amor / ódio (incluindo a minha e a da minha vizinha). Inevitavelmente, Outer South concede vantagem ao ódio nessa corrida. Cuidado: Conor Oberst parece um criminoso na capa do disco. Rosto ligeiramente censurado. A venda podia ser o rectângulo negro que oculta os olhos dos criminosos nos noticiários. Ele nem sequer está ali. Era melhor que não estivesse.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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