DISCOS
A Hawk and a Hacksaw
DĂ©livrance
· 25 Mai 2009 · 18:20 ·
A Hawk and a Hacksaw
DĂ©livrance
2009
Leaf / Flur


Sítios oficiais:
- A Hawk and a Hacksaw
- Leaf
- Flur
A Hawk and a Hacksaw
DĂ©livrance
2009
Leaf / Flur


Sítios oficiais:
- A Hawk and a Hacksaw
- Leaf
- Flur
Continua a marcha fúnebre a celebrar o encontro entre a pop ocidental e a folk balcânica.
Com nome inspirado numa fala de Hamlet, o duo A Hawk and a Hacksaw formou-se em Albuquerque, Novo México, mas há muito que anda perdido de amores pela Europa de Leste. Jeremy Barnes vem na linhagem dos Neutral Milk Hotel (uma das bandas mais relevantes e menos citadas dos 90), onde assumiu as despesas da bateria – aqui ele ainda toca acordeão e também canta; Heather Trost toca violino.

Depois de uma estreia homónima a passar gloriosamente ao lado de quase todos, Barnes e Trost editaram um impressionante Darkness at Noon, em 2005, e ainda um par de trabalhos menores nos anos seguintes. Agora que o nome de Beirut está definitivamente sedimentado nas consciências colectivas e a pop ocidental anda há muito a fazer-se à folk balcânica, volta a ser tempo de ouvir isto e de render homenagem aos precursores desta coisa, que em 98 cantavam a Anne Frank e o rapaz de duas cabeças.

Os Neutral Milk Hotel têm a cara que merecem mas merecem que cada vez menos gente lhes vire a cara. Foram eles que iniciaram um cortejo fúnebre de temas queridos aos Balcãs e uma folk tocada por acordeão, gaitas e serrotes. Uma procissão agora retomada por um Délivrance que mistura canções tradicionais, devidamente retratadas, e material original do duo de Albuquerque (que poderiam perfeitamente ser canções tradicionais).

Chegados a Budapeste, Barnes e Trost juntaram-se ao Hun Hangár Ensemble, com quem, de resto, já tinham gravado há dois anos. O espírito geral do disco transpira uma exuberância levada ao extremo, mesmo que lá em cima se tenha escrito "cortejo fúnebre" (o culto da morte não é igual em todo o planeta, como se sabe). E há um certo fascínio tresloucado nestas canções, necessariamente autodestrutivo, como a fêmea que arranca a cabeça do macho depois do coito.

Não se quer com isto dizer que Délivrance não é um bom disco. É-o a vários níveis: quer na folia carnavalesca de "Turkiye", quer também na epopeia grega da também tradicional "Foni Tu Argile". Ou na digressão dos casinos de LA pela temperança balcânica em "I Am Not a Gambling Man" – e até acreditamos no tom confessional do homem mas aqui ele perdeu a aposta. Délivrance é como um coxo numa maratona: sim, sim, perder ou ganhar é desporto mas no pelotão segue o ainda insuperável Darkness at Noon. Não há muito a fazer.
HĂ©lder Gomes
hefgomes@gmail.com
RELACIONADO / A Hawk and a Hacksaw