DISCOS
Cursive
Mama, I’m Swollen
· 22 Mai 2009 · 17:45 ·
Cursive
Mama, I’m Swollen
2009
Saddle Creek / Popstock


Sítios oficiais:
- Cursive
- Saddle Creek
- Popstock
Cursive
Mama, I’m Swollen
2009
Saddle Creek / Popstock


Sítios oficiais:
- Cursive
- Saddle Creek
- Popstock
Entre o purgatório e o inferno, Tim Kasher continua desigual na variação da canção à flor da pele. Mesmo assim, falta-lhe qualquer coisinha.
Ao alinharmos os álbuns de Cursive num gráfico de virtudes, Domestica (2000) e The Ugly Organ (2003) salientam-se inevitavelmente como torres firmes. De certo modo, duas torres de controlo perfeitamente aptas a orientar um projéctil rock partido de uma plataforma crua e hardcore rumo a voos mais inventivos. Muito por causa da matreirice formal envolvida, Domestica e The Ugly Organ desresponsabilizaram os Cursive de qualquer culpa na praga emo (que, hoje, serve apenas para descrever o estilo típico de miúdas que fogem de casa). Lamentavelmente, Tim Kasher, o principal agitador da locomotiva Cursive, é muitas vezes reconhecido pelo coração amolgado, que transpõe para a voz, e nem sempre aclamado pelas soluções que descobre para canções sobretudo iguais a si próprias.

Só desrespeitando uma cartilha estilística se chega à passada sinistra de “Butcher the Song†ou ao estrondo Mariachi de “A Gentleman Caller†(ambas do fabuloso The Ugly Organ). Eventualmente, a lição sobrou para quem a perseguiu: recentemente, os Linda Martini reinventaram-se, em Marsupial, com um desembaraço que pode ter partido dos Cursive. Feita a homenagem devida aos dois álbuns-mossa, há que apontar baterias a Mama, I’m Swollen, que, sem mexer muito na linha do gráfico, tem para dar tanto quanto os Cursive podem nesta altura de ressaca.

À semelhança dos seus homólogos, Mama, I’m Swollen é um disco alimentado pela entrega típica dos Cursive: voz disposta a tentar extremos, canções prestigiadas pela capacidade de evitar o lugar-comum. Desta vez, Tim Kasher situa as suas histórias algures entre o purgatório e o inferno, o que até nem surpreende, quando o anterior Happy Hollow versava tantas vezes sobre a religião como ópio da América. E, em Mama, I’m Swollen, a vertigem, que empurra personagens para o inferno, é forçada por uma secção de sopro marchante (“From the Hipsâ€) e órgãos de velório alegre (na assumida “We’re Going to Hellâ€). Para que a sofisticação desses temas não adormeça sozinha, os Cursive reavivam também a sua fórmula mais directa: “In the Now†convence como eco de “Bed for the Scrapingâ€, de Red Medicine, álbum insuperável prescrito pelos Fugazi (guias espirituais destes rapazes de Omaha).

Apesar de estar recheado de ideias, Mama, I’m Swollen deixa escapar o ingrediente secreto que fazia maravilhas pelas torres mencionadas. Não há como esquecer o violoncelo de Greta Cohn (nome traiçoeiro) e a iminência que imprimia nas canções de The Ugly Organ. Sem esse, o punch ocorre dois passos atrás – desligado da convenção e mais distante da vontade que esperava a doce bofetada dos Cursive. A alavanca ainda mexe, mas o buraco na muralha já não é o mesmo.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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