DISCOS
Ai Phoenix
Lean That Way Forever
· 08 Mar 2003 · 08:00 ·
Ai Phoenix
Lean That Way Forever
2002
Racing Junior


Sítios oficiais:
- Ai Phoenix
- Racing Junior
Ai Phoenix
Lean That Way Forever
2002
Racing Junior


Sítios oficiais:
- Ai Phoenix
- Racing Junior
Os Ai Phoenix são um segredo bem guardado que, de entre fiordes e montanhas glaciares da Noruega, na sombra do anonimato decerto compulsivo e próprio de executantes de música habitada pela mais tocante da simplicidade, maturidade e honestidade, encontram par ao lado de nomes como os de Mazzy Star ou de Cowboy Junkies. Ao contrário do que se poderia esperar de influências tão evidentes (e assumidas), não estamos perante um caso de rumo ao precipício, isto é, de rumo ao corte e costura de modelos academicamente eterizados, mas sim, de uma manifesta e idiossincrática identidade própria.

Logo a partir do primeiro segundo, quando em Mountains and Castles, Patrick Lundberg e Mona Mørk, em registo de fairy tale, (porventura canção de embalar de Mona, educadora de infância de jardim de escola de Bergen) nos dão conta de scary towers with scary little rooms where all the illusion caught from the other side of the wall e das aventuras e desventuras de Robin Hood and his crew, a probabilidade de encarar a audição de Lean That Way Forever como tempo perdido andará perto de zero. Em Bird Whispering, Mona, por sua conta e risco, assume todo o legado de Fade Into You de Hope Sandoval, traduzindo-o em sensual peça atmosférica palidamente colorida por uma fiel guitarra acústica e um sintetizador a cargo de Bosse Litzheim (percursão, acordeão, banjo). Elvis é um elegia sem ponto de partida ou chegada, significado ou significância, a cover do clássico The Song From Moulin Rouge, abrilhantada pela reconfortante voz de Mona e o acordeão de Bosse, é cartão de visita de toda a nostalgia que habita neste álbum. Don’t Be Afraid é escrita por e para Mona, revelando toda a sua insegurança e a fragilidade, confessando-se e aconselhando-se, repetindo-se a toada em Storyteller, desta vez espelhando todo o seu amor e capacidade de sofrimento na preocupação, própria daqueles que são dotados pela sensibilidade, por quem ama, por a quem quer.

Em Lean That Way Forever, terceiro álbum de originais, a beleza, a simplicidade e capacidade de comunicação entre as almas gémeas do sentir não deixam por um único momento de estar presentes. Traz também consigo a reconfortante esperança de que a Escandinávia, no contexto de uma, já mais que advogada, geopolítica de trends and next big thing hot spot, não estará condenada à exportação de hypes alicerçados nos decrépitos pilares da medida e (sobre)valorização artística pela chancela e rótulo: mixed and recorded in somewhere frosty and icy.
Nuno Pereira

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