DISCOS
For Against
Shade Side Sunny Side
· 11 Mar 2009 · 10:40 ·
For Against
Shade Side Sunny Side
2008
Words-on-music


Sítios oficiais:
- For Against
- Words-on-music
For Against
Shade Side Sunny Side
2008
Words-on-music


Sítios oficiais:
- For Against
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É forçoso roubar o refrão de Prince: esta noite vamos apreciar o pós-punk como se fosse 1981.
Só ignorando os quatro dígitos no calendário pode alguém não estranhar a música dos For Against, à lupa da contemporaneidade. Três rapazes de Lincoln, no Nebraska, persistem em flexionar o pós-punk como se o tempo tivesse parado algures entre 81 e 82, quando Juju (Halloween todos os dias) dos Siouxsie & the Banshees ou Seventeen Seconds dos Cure eram discos para levar no bolso em romarias pela mata. Shade Side Sunny Side é já o sétimo disco dos For Against, e o primeiro em seis anos, sem que isso represente inovação de maior face aos clássicos obscuros Echelons (1987) e December (1988). Pouco importa a ausência de progresso, neste caso, quando os mesmos ingredientes de sempre resultam em canções duradouras e capazes de competir num campeonato que encerrou há um quarto de século.

Alheemo-nos então de todos os factores cronológicos durante 50 minutos, porque Shade Side Sunny Side merece, de facto, uma oportunidade que afaste os For Against do segredo que os retém há décadas. Logo ao abrir, “Glamour” tem uma daquelas linhas de baixo – capaz de trespassar o tórax - que deixaria Tony Wilson à beira de um orgasmo precoce. Com a repetição do baixo e o restante espaço preenchido por sons atmosféricos, aumenta a crença de que pode andar por aqui o “A Forest” (The Cure, uma vez mais) ou o “In Sharky Waters” (bomba contrastante dos Disco Inferno) dos For Against. A confirmação do bom agoiro inicial chega, logo depois, com uma “Underestimate” dominada pelo cinzento, lírica agridoce e tom de meia-ameaça que se alastra ao restante disco. Mais adiante, a escuta de “Friendly Fires”, um original dos Section 25 que arde brandamente nas mãos dos For Against, vem revelar dois pontos pertinentes: a) a percussão dos Liars em Drum's not Dead pode bem ter sido calibrada com um ouvido em Always Now dos Section 25; b) os For Against continuam altamente endividados para com a Factory, na afirmação da guitarra como um estimulante de climas gélidos e não apenas como obreira da nivelação melódica.

Se é verdade que o naipe já estava formado com os memoráveis temas referidos, também não fica bem omitir os danos que Shade Side Sunny Side sofre às mãos de momentos grosseiramente chatos (alguns próximos da choraminguice que sabotava o último disco dos suecos Logh). Consente-se com agrado a estagnação estética dos For Against numa época longínqua, em que o pós-punk era rei bastardo, mas custa engolir sapos que parecem surgidos do laboratório sentimentalão dos Coldplay ou coisa que o valha. Por mais incrível que pareça, os For Against só precisam de olhar pelo retrovisor para guiar a sua identidade até uma notoriedade que há muito lhes é merecida.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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