DISCOS
Psychic Ills
Mirror Enemy
· 05 Mar 2009 · 23:32 ·
Psychic Ills
Mirror Enemy
2009
The Social Registry / Flur


Sítios oficiais:
- Psychic Ills
- The Social Registry
- Flur
Psychic Ills
Mirror Enemy
2009
The Social Registry / Flur


Sítios oficiais:
- Psychic Ills
- The Social Registry
- Flur
Psicadelismo transversal com selo Brooklyn bem visível.
Para um instrumento cuja amplitude sonora não deixa de ser algo confrangedora pelas suas limitações, a pandeireta guarda um lugar de especial destaque no que respeita ao imaginário psicadélico. Contrapondo a expansividade, de quem almeja estados mentais “superiores”, a pobreza da pandeireta vai segurando a sua valência por entre o delay, o fuzz e demais parafernália tecnológica amiga dos psicotrópicos. Personagem discreta de um historial rico que tanto passa pelos sonhos technicolor ocidentais, como pela meditação exótica do médio-oriente. Mirror Eye tem uma pandeireta na capa e carrega também ele o legado do psicadelismo. A citação do guru Alan Watts inclusa (The more it succeeds, the more it fails) é categórica.

Adoptando o conforto de uma perspectiva diacrónica, é seguro afirmar que Mirror Eye descreve uma helicoidal sobre os últimos 50 anos psicadélicos, transfigurados na Brooklyn das aculturações naturalistas (que a associação à Social Registry confirma). Exploração kraut, combustão à la Spacemen 3, misticismo oriental, espaço dub e estranheza pós-Gang Gang Dance, são combustível para viagens em torno do cérebro. No entanto, ao contrário da incoerência de Dins, essas mesmas partículas não se dispersam em tentativas óbvias de soar a espaços mais rock, mais experimental ou meramente desinteressante (como acontecia), para se assumirem como meras referências diluídas num código genético onde impera a coesão. A abertura, com a envolvente “Mantis” instala desde logo o cheiro a incenso, num mantra conduzido por uma repetitiva linha de baixo e percussão esparsa, cortada por melodias de cítara e voz fantasmagórica, numa toada ritualista que se irá repercutir ao longo de todo o álbum. Com o sintetizador incessante a servir de agulha, os Psychic Ills vão tecendo as suas composições sem nunca chegar a uma conclusão para estas que rematasse em canção insípida ou crescendo óbvio. Deixando as composições num espaço aberto à improvisação estruturada, vão delineando melodias de tonalidades orientais (“Meta” ou “The Way Of”), acercando-se de momentos mais explicitamente rock como “Fingernail Tea” ou demolhando o post-punk em ácidos em “I Take You As My Wife Again”, sem resultados inovadores, mas contundentes no que respeita aos seus propósitos. E estes passam pela criação de um bom álbum psicadélico (por muito simplista que isto possa parecer).

Talvez presida ao quarteto nova-iorquino uma ambição maior do que essa, no entanto, à falta de desvios acutilantes ou manobras inspiradoras, o encantamento instala-se na mesma medida em que é (quase) sempre bem recebido um novo álbum dos Bardo Pond. Também eles exímios criadores num território onde a ausência de novidade não é sinónimo de bocejo, mas confinados a essa mesma alternativa à realidade. Espaços mentais convidativos à imersão são ainda a uma alternativa credível ao marasmo do quotidiano. Os senhores (e senhora) da pandeireta dos Psychic Ills têm canções para isso.
Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
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