O caso Max Richter não é fácil de explicar. Ficando na fronteira entre uma certa música clássica contemporânea e a pop de pretensões ambiciosas (é inevitável falar nos Sigur Rós), Richter consegue agradar a uma ampla latitude de públicos. A sua associação à Fat Cat não será propriamente inocente, e dá-lhe acesso a um mercado maioritariamente indie, mas principalmente consumidor de música e com ouvidos abertos para outros territórios. Talvez isto explique um pouco da sua anormal popularidade (coisa rara para quem trabalha nas margens da música clássica), que vai dos leitores da Wire aos adeptos da música clássica e até aos indies que não têm por hábito ouvir sonatas para violino.

Neste trabalho Richter desenvolve 24 pequenas peças (com cerca de um minuto cada), que exploram diferentes ambientes, texturas e temas melódicos. Por vezes é dada apenas uma vaga sugestão textural, outras vezes os temas revelam um grande potencial melódico – que dá vontade de os vermos desenvolvidos num contexto de maior grandiosidade. Servindo-se principalmente do piano e das cordas (quase sempre alternados), a música consegue por vezes evocar uma dimensão quase espiritual.

No entanto este disco tem um problema que se vai tornando difícil de evitar: à medida que o disco avança, torna-se notória uma certa repetição de fórmula, vão sendo poucas as variações. Ainda assim, este disco é uma boa amostra da capacidade criativa de Richter, senhor de uma rara eloquência musical. Da evocação de minimalismo (de Philip Glass a Terry Riley) a momentos épicos que poderiam ser inspirados nas obras de alguns compositores do século XX (poderemos pensar numa sobriedade devedora de Gustav Mahler), Richter trabalha num terreno sóbrio e fértil. Não admira que seja altamente apreciado por quem gosta dos islandeses que usam gorros na cabeça.