DISCOS
AbZTRAQT SiR Q
Qorn Pop Garden
· 30 Dez 2008 · 18:20 ·
AbZTRAQT SiR Q
Qorn Pop Garden
2008
Meifumado / Sabotage


Sítios oficiais:
- AbZTRAQT SiR Q
- Meifumado
- Sabotage
AbZTRAQT SiR Q
Qorn Pop Garden
2008
Meifumado / Sabotage


Sítios oficiais:
- AbZTRAQT SiR Q
- Meifumado
- Sabotage
Muitas pipocas de milho a estalar com muita banana derretida que é depois barrada com uma faca Shonen.
Qorn Pop Garden é mais uma amostra do impossível tornado possível. O álbum de estreia dos lisboetas AbZTRAQT SiR Q mostra aos ouvidos de quem quiser ouvir que há por aí uma nova geração de músicos que apregoa (felizmente) sons bem menos convencionais.

O que surpreende ainda mais nestes novos AbZTRAQT é a sua atitude experiente perante a música. Palmas ao produtor Zé Nando Pimenta, palmas à banda. É um disco de estreia mas sente-se que este quarteto sabe bem o que está a fazer. E sabe bem o que andou a ouvir. Decididamente colheram da sementeira de Raincoats, Lilliput, ou dos dois primeiros álbuns de Blonde Redhead que já deram também ao mundo os magníficos Deerhoof. Os mesmos de Apple O, o que mais engraçada torna a coincidência (?) de terem uma faixa com o nome “Sorry O”. Nisto, e ouvindo por alto o disco, podia-se concluir que numa onda de “os Peixe:avião são os Radiohead portugueses”, os AbZTRAQT seriam certamente os Deerhoof lusos. Mas ambos os projectos têm vida própria a latejar, e num panorama musical limitado de um país pequeno que tem as suas (muitas) limitações, venham mas é mais bandas com boas comparações como estas.

Voltado a Qorn Pop, o citado tema “Sorry O” é onde também o grande João Peste surge a dar a voz num sonho pop de dueto que, sem medo, cresce em espirais melódicas e sónicas à medida da extraordinária vocalista exibicionista (é assim que se apresenta) – Mundina Moruniq. Com cordas vocais que parecem emprestadas a Dagmar Krause de uns velhinhos Slapp Happy e sobretudo com muita "soul" oriental das vocalistas dos já citados Blonde Redhead e Deerhoof, Mundina Moruniq só peca por se apresentar assim com este nome. Falta o seu nome a sério, aliás, como a toda a banda que se refugia em heterónimos com piada trocadilheira como Andy Newman. Venham os seus nomes a sério, até porque quem os ouve ao longo das dez canções fica com a impressão que são para levar mesmo a sério.

O mesmo se passa com a capa, que é bonita e designer sim senhor, digipak bem feito sim senhora, mas com pouco Qorn Pop Garden. Porque também esse nome, brilhante aliás, merece mais. Igualmente brilhante e merecedora de melhor capa é também a música, nem que seja por “Forest in Chains” ou “My Mazter Drug”, dois dos melhores temas da história da música portuguesa de sempre, cantada ou não em português. Psicadelismo total, afinal possível neste rectângulo-país, ainda por cima no calibre narcótico dos krautrockers Amon Duul II que de forma arrepiante Mundina relembra em “My Mazter Drug”, com um timbre operático à la Renate Knaup de “Phalus Dei” ou “Tanz der Lemminge”.

Na faixa que homenageia o “Xing Palace Place”, onde na mitologia AbZTRAQTiana a banda diz que se refugia, o orientalismo da coisa só nos faz recordar que um dia também fomos por esses mares fora, sem medos, até ao Extremo Oriente. E faixa a faixa, extremo é a palavra certa. Em “Oll I 1 There”, constata-se que estes portugueses não têm medo de experimentar e de brincar, de amplificadores bem em cima de qualquer velho do Restelo, com Mundina tornada Meredith Monk a espaços. É neste contexto que surge o excelente “Hello Eveybody Yellow” onde os jogos verbais de Mundina vão desde o “U.S.A” que se ouve aos poucos num portuguesíssimo “eu é que sei”, para um “Fantasy” que se transforma em “Fun to see”, tudo ao som de muitas pipocas de milho a estalar com muita banana derretida que é depois barrada com uma faca Shonen em todo o seu apogeu no tema-título.

A seguir às pipocas e ao sake vem uma “Diet Riot”, digestão ritualista e xamânica, fim de festa assombrada por palavras italianas que recordam Demetrios Stratos dos Area em versão feminina. Um “grand finale” que já tinha saído numa “netlabel” italiana bastante interessante, de seu nome Lepers Productions. Isto numa compilação com o tema perder peso. Montra já mostrada de um disco excelente em qualquer parte do planeta (e a banda já anda a tocar por aí fora). A partir daqui, só se pede por favor mais e mais, nem que seja do mesmo.
Nuno Leal
nunleal@gmail.com
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