O título deste disco quase que explica por si só a relação do quinteto alemão Art of Oryx com a música. First Book of sound, a estreia discográfica deste colectivo, percorre um território imprevisível, disponível para receber influências externas mas muito consciente do caminho que quer seguir. Um livro aberto, portanto, à música electroacústica e ao jazz e inclusive ao rock, que pontua neste registo em doses justas. Aberto mas não escancarado. O território é livre mas não despreocupado, uma vez que a coesão é um elemento importante para os Art of Oryx. Há canções e canções que não o chegam a ser, interrupções e tentativas. Há quase uma tentativa de quebrar as barreiras que se entrepõem entre a canção e a não-canção.

First Book of sound é um disco precioso no sentido em que cada som, cada pormenor, cada partícula conta tanto ou mais do que os antecessores. O projecto que é maioritariamente de Thomas Büchel e Willem van Dijk é sobretudo um encontro de elementos que partilham interesses similares na música – e daí a união que se sente ao disco. O ponto de partida parece ser sempre o jazz mas este é apenas a base para que possam partir noutras direcções – controladas. O trabalho em First Book of sound é evidente, as primeiras gravações para este disco começaram em 2006 e a partir daí o quinteto foi-lhe adicionando novos sons e novos ambientes, montando o puzzle, cosendo uma manta de retalhos que agora se mostra recompensadora.

No cruzamento estilístico sobram por vezes, ainda que por pouco tempo, canções pop ternas e ao descoberto; frágeis, porque logo a seguir pode vir uma avalanche jazz e “estragar� o ambiente. No geral, por toda a parte, nota-se uma grande perfeição e preocupação com o “som�, com a sua qualidade, com a sua pureza. First Book of sound é um disco com uma propriedade sonora impressionante. Mas é também impressionante pela sua estranheza no constante ziguezaguear, pela abrangência estilística e coerência, pela beleza taciturna. Robert Wyatt podia entrar aqui a cantar a qualquer momento.