Os 808 State, nome incontornável na história da música techno house mundial, reuniram-se em 1988 em torno de uma caixa de ritmos Roland TR-808 (que lhes inspirou o nome para o projecto) e de um bassliner Roland TB-303 como consequência inevitável da histeria que o acid-house ia criando em solo britânico. Relembre-se que Manchester, cidade natal do projecto, era na altura o epicentro criativo da Europa e de lá jorravam nomes empenhados na perversão das linguagens da música popular. Graham Massey, Martin Price e Gerald Simpson (formação inicial), conscientes da revolução em curso, e emerços no espirito do Madchester, decidiram dar o seu contributo na concretização de uma linguagem psicadélica, jovem e suficientemente frenética para os dias que se viviam. Newbuild foi o primeiro disco; inconsequente para as massas mas um pilar para um conjunto de novos produtores fascinados com as novas tecnologias.

A verdadeira consagração viria apenas um ano mais tarde quando os 808 se tornariam acidentalmente em novas estrelas da indústria musical. O trio, como projecto de música techno-house, foi das primeiras presenças no Top Of The Tops graças ao intemporal «Pacific State», uma sofisticada combinação ambient-house que atingiu surpreendentemente o número 10 do top britânico. «Pacific State» era, e ainda hoje é, uma curiosa antítese sonora em relação ao lascivo e corrosivo Newbuild.

A confirmação do génio viria com 90. No entanto não foi esse o disco escolhido para esta recensão; pessoalmente, a opção recaiu numa das mais fortes influências musicais de adolescente, num disco incontornável dos anos 90: o majestoso Ex:el.

Em 1991, os 808 State demonstraram de forma retumbante que existia lugar para um formato de canção que unisse os cantos estimulantes da pop moderna às pontas marginais do techno-house. Os instrumentos analógicos foram ganhando o seu lugar na composição de ambientes ora etéreos ora lascivamente hedonistas. Uma escrita criativa pessoal que definiria para todo sempre uma geração que tanto poderia apreciar música no sofá ou na pista de dança. Tanto poderia escutar house a caminho do trabalho ou enquanto cozinhava. No fundo uma música capaz de sobreviver no tempo e no espaço sem contradições.

“The ex:el period defined 808 State for a generation…� são palavras pertinentes que se lêem agora no interior da reedição do brilhante Ex:el. Palavras que não poderiam estar mais correctas - apesar da vasta influência que os dois primeiros discos tiveram no desenvolvimento do carácter sonoro de uma geração adolescente que via nas raves um escape para o pragmatismo do reino.

E se hoje ainda restam dúvidas na nomenclatura a dar a Ex:el, poucas dúvidas existem – senão mesmo nenhumas – na singularidade desta retumbante ambiguidade resultante da extraordinária especulação sonora que os 808 empreenderam há dezoito anos sem quaisquer garantias de sucesso. Ex:el é a prova inigualável que o risco nesses dias eram sérios mas acima de tudo eram divertidos. E isso transparece na música, nas suas nuances, cores e formas. Nas melodias inocentes em busca da envergadura épica. Nos ritmos intrincados em busca de liberdade. Um disco profundamente inspirado e inspirador. Um clássico para a vida.

Esta reedição remasterizada contem um segundo CD com remisturas vindas directamente do baú de memórias perdidas dos 808 State