DISCOS
Christina Carter
Texas Working Blues
· 28 Out 2008 · 09:37 ·
Christina Carter
Texas Working Blues
2008
Blackest Rainbow


Sítios oficiais:
- Blackest Rainbow
Christina Carter
Texas Working Blues
2008
Blackest Rainbow


Sítios oficiais:
- Blackest Rainbow
Homenagem apaixonada e apaixonante ao grande estado.
No final de um pequeno texto pleno de genuinidade, por entre referências a botas de cowboy compradas em Rhode Island e sinceros elogios a Jandek, Pip Proud e Tom Carter ("he of the magnificent soulfull Texas guitar") pode-se ler "So here are some new tracks recorded in the Spring, but meant for the Summer. And like a "A Blind Eye" says, it was never quite the "Summer Of Love"...". As palavras inclusas nas liner notes de Texas Working Blues da autoria de Christina Carter, são reveladoras da natureza inerente à consecução deste álbum, algo que já se sabia, mas se guardava como um precioso segredo.

Sob o signo do Verão e gravado no estado que o intitula, apropria-se dos estados mentais característicos da silly season para os resgatar a memórias de tardes ociosas e crepúsculos nostálgicos. "Texas gives me the blues" escreve a senhora em tom apologético, transparecendo em toda a sua plenitude na poeira da guitarra dolente e volátil que conduz a voz terna mas resignada com que se envolve perante o seu vazio, desocupado que está o cérebro de formalidades. Longe de apelar a algo profundamente irrisório ou mesmo ridículo como estados meditativos (ou qualquer outra estopada new age), a sua música exige abandono, reflexão despida de objectivos e causalidades factuais (ou seja, as referências a Jandek e de um modo mais geral aos blues não são de todo casuais). A liturgia, mesmo que esvaziada do seu lado simbólico e longe de reverências religiosas ou de submissão, é inequívoca no embalamento de "The Other Planet". A simetria é clara: quer-se paz. E mesmo que "Pale Rose Cream" paire sobre o abismo (don`t mess with Texas), nunca se presta a afundar, deixando-se flutuar em envolvência nocturna.

Mesmo que o juízo racional tenda a resvalar para a mera imagética pseudo-filosófica, o que se irá repercutir na resenha é essa mesma capacidade de Texas Working Blues de se abstrair de qualquer objecção crítica que lhe seja dirigida. Sentimento sintomático de um álbum cuja maior virtude está na sua transparência (de sentimentos/sensações). Este abandono a que remete o ouvinte para a prosa umbiguista não deixa de se se tornar uma via extremamente confortável tal como a capacidade (inata?) do ser humano de encontrar a virtude no infortúnio (são feitas disso as "canções da nossa vida").

A atentar na humildade que Christina transparece nas palavras transcritas, este não parece ter presidido à composição de Texas Working Blues. Permanece o apaziguamento. Tratando-se de blues, poderá ser redenção.
Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
RELACIONADO / Christina Carter