DISCOS
Quiet Village
Silent Movie
· 19 Mai 2008 · 08:00 ·
Quiet Village
Silent Movie
2008
!K7


Sítios oficiais:
- Quiet Village
- !K7
Quiet Village
Silent Movie
2008
!K7


Sítios oficiais:
- Quiet Village
- !K7
Pop mediterrânea, exotismo baleárico ou simplesmente easy-listening urbano com desejos de paixão ardente e fantasias extravagantes? Respostas só num silêncio indiscreto e em tom retro…
Não será um disco de amor à primeira vista. E nem se chega a perceber muito bem o motivo pelo qual é rejeitado à partida e sujeito a adoração no fim. Certo é que a insistência é fundamental para assimilação das cores, dos corais sonoros e das paisagens retro (sim, retro!) propostas por 2 activistas da causa sonora cinematográfica (Matt Edwards e Joel Martin).

Talvez a desconfiança seja logo no início a primeira impressão que se retira de Silent Movie. A simplicidade melódica, o pastiche, a ambiguidade, alguma ousadia passiva, o empilhamento sonoro envolto numa manta de retalhos pop, rock, funk e disco em modo chill-out provoca alguns arrepios de estranheza, levantando suspeitas razoáveis sobre a aura de mistério que paira nas entrelinhas. Mas talvez até sejam as incertezas que permitem a descoberta (repito: com alguma insistência) de um disco repleto de fantasias exóticas, lânguidos instrumentais desenhados para filmes noir onde o expressionismo é levado ao extremo.

Da manta de retalhos também não haverá nada a temer. Matt e Joel não são os primeiros, nem serão os últimos a recorrerem ao velho vinil como fonte de inspiração – e quem sabe algo mais – para a construção de uma espessa e consistente massa sonora que integra na sua matriz elementar a essência do disco-sound, do rock, do funk, do jazz e da soul, atrevendo-se ainda à indiscrição de referências como Buffalo, Ryuichi Sakamoto, Sister Sledge e tantos outros nomes que deixariam Quentin Tarantino desperto por uns quantos dias. E se nos recordarmos dos primeiros discos de Dj Shadow – nomeadamente do clássico EP What Does Your Soul Looks Like? – não será difícil concluir que os samplers ainda são as ferramentas úteis na concretização do pormenor, seja ele um contorno, uma sombra ou uma cor.

Não haverá quem deixe de caracterizar Silent Movie como um disco de música lounge, da tal que há muito não se fazia. E não estarão muito enganados já que o passeio easy-listening é definitivamente feito de olhos fechados com o corpo estendido num sofá ou espraiado na areia quente de qualquer praia mediterrânica. Garantido é o prazer perante o exotismo baleárico de «Victoria's Secret», o veludo misterioso de «Circus Of Horror», o voo planante de «Free Rider», o paisagismo rock de «Pillow Talk» ou a sensualidade escaldante de «Singing Sand».

Silent Movie é um mimo intimista que se estranha na pele mas que mais cedo ou mais tarde se entranha na mente, especialmente quando surge o momento do desejo de uma banda sonora que sussurre eloquentemente toda a conjugação do verbo prazer ou dite em surdina a narrativa de uma inesquecível história de amor.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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