DISCOS
Tropa Macaca
Marfim
· 17 Dez 2007 · 08:00 ·
Tropa Macaca
Marfim
2007
Ruby Red
Tropa Macaca
Marfim
2007
Ruby Red
Mais um passo em frente para os Tropa Macaca, um passo significativo para a música periférica portuguesa em 2007.
A música periférica portuguesa deu em 2007 mais alguns passos decisivos rumo à afirmação possível nestes casos – em meios menos visíveis. Não necessariamente em CD-R, em netlabels ou em K7s, como vinha a ser hábito até recentemente, mas também em vinil ou mesmo em CD. Os Lobster estouraram em 2007 com o disco oficial de estreia na Borland (Sexually Transmitted Electricity) e quebrou-se um mito. Os Tropa Macaca aparecem também este ano com o seu disco oficial de estreia, mas num objecto fetichista para esta geração de bandas portuguesas: o vinil, uma aposta forte da Ruby Red, a editora dos lisboetas Loosers.

De todas as propostas desta nova música periférica, os Tropa Macaca são uma das que mais evoluiu ao longo dos tempos (curtos, claro, que isto ainda agora começou). São hoje um dos projectos mais interessantes de uma música portuguesa menos interessada em seguir guiões já conhecidos e standardizados. Marfim, nas duas peças que o compõem, tem entrada directa para o panteão dos discos mais interessantes desta nova geração de músicos – que anda por aí a desbravar terreno. Ju-Undo (Joana da Conceição) e Símio Superior (André Abel), munidos de electrónicas várias e guitarras, estabelecem uma série de protocolos sonoros que procuram quase invariavelmente um local de confronto. Isto equivale a dizer que Marfim está longe de ser um disco confortável e conformista.

Depois de um início cirúrgico e de pulso irregular, “Tronco nu” vai-se adensando e ganhando matéria e estranheza. Colhe aqui e ali alguns elementos de interesse e segue caminho sem demoras. A circularidade dilui-se no hipnotismo e o espaço confunde-se no tempo. Quando se julga que o caminho não reserva mais surpresas, os Tropa Macaca dão as voltas ao texto e a narrativa deixa de ter guião. Quando se aproxima de um quase tribalismo camuflado, a maratona “Tronco Nu” tem aí o seu mais forte argumento. E é nesse abalar das estruturas que os Tropa Macaca voltam a vencer na segunda parte do manifesto. Do inicio ao fim, Marfim, belo no seu vinil branco, é uma expedição por alguns dos sons mais rudes que este paraíso à beira mar plantado alguma vez ouviu. Agora que os Tropa Macaca definiram mais acertadamente o território a explorar, espera-se que saibam gerir a definição geográfica.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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