DISCOS
Opitope
Hau
· 25 Out 2007 · 08:00 ·
Opitope
Hau
2007
Spekk


Sítios oficiais:
- Opitope
- Spekk
Opitope
Hau
2007
Spekk


Sítios oficiais:
- Opitope
- Spekk
Disco sonante no vasto âmbito da electro-acústica japonesa prova que a internalização de Chihei Hatakeyhama não se sucedeu por mero acaso.
O crescente sufoco urbano vivido no Japão pode bem ser o factor que mais directamente leva a que a música electro-acústica desse país persista em evocar paisagens naturais ou, se se preferir, terrenos virgens propícios àquele germinar auroral que se descobre às guitarras e processamentos digitais que se movem com a mesma lentidão do sol nascente. Hau, o primeiro disco a cargo do par Opitope, não dista muito do que se espera de um trabalho centrado na electro-acústica e integra-se nessa mesma linhagem de discos que emitem secretamente convites à vida no campo: não basta um bonsai à varanda de uma janela para se confiar a um vaso a ilusão de que a cidade está longe.

Hau virtualiza melhor essa evasão mental ao contar com o labor delicado de Chihei Hatakeyama – ele que, com a ajuda de Tomoyoshi Date, volta a partir do silêncio como tela em branco para reproduções vagas de um cenário natural ileso às marcas do progresso. Assim já acontecia em Minima Moralia, lançado o ano passado pela atenta Kranky, e assim se verifica de novo em Hau, com a operação de algumas variações formais. Os próprios títulos de ambos os discos remetem para a mesma simplicidade: ”Bonfire on the Field”, “A Far Room”, “Beside a Well”, “Mist on the Sea”. A bem ver, Hau pode até ser uma falsa sequela de Minima Moralia.

É, pelo menos, um disco mais ambicioso em termos das estruturas de que dispõe para cultivo moderado: sugere simetria ao salientar o piano a ambas as extremidades e insinua a inversão às estações do ano com algo a que se poderia chamar de “degelo das melodias” (muito mais compactas e estáticas em “Trees Reflecting on the Surface of the Lake” do que em outros momentos mais avançados). Nos momentos em que levitam mais soltas as partículas extraídas à electrónica e vibrafone, seguem-se o rasto aos pirilampos tonais produzidos com o mesmo ímpeto que movia os ratos em perseguição da flauta de Hamelin. Tudo em Hau transita em circuito cíclico admitido pelos próprios criadores do disco no breve texto que acompanha o seu press-release.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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