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Map Of Africa
Map Of Africa
· 20 Jul 2007 · 08:00 ·
Map Of Africa
Map Of Africa
2007
Whateverwewant / Flur


Sítios oficiais:
- Whateverwewant
- Flur
Map Of Africa
Map Of Africa
2007
Whateverwewant / Flur


Sítios oficiais:
- Whateverwewant
- Flur
Um paradoxo dos nossos tempos. Dois senhores da música de dança criam um disco rock fora de tempo, confuso mas agradável. O que virá a seguir?
Poderia supor-se pelo título que se trata de uma viagem ao coração de África. Poderíamos supor que através dos “mapas” redescobrir-se-ia a centelha ignescente de toda a música popular contemporânea. Que estaríamos perante um dos raros momentos de reflexão cultural onde revelar-se-iam os antípodas ancestrais. Pois se pensavam, enganem-se.

Perante o verdadeiro impasse criativo que esta época está proporcionar, a ausência de rumo definido poderá não só significar – e justificar – o amalgamar sem prumo de referências passadas, como desviar a riqueza estética de outrora numa tentativa de recuperação desesperada de um virtuosismo desaparecido como se de uma arca perdida se tratasse. E se não chegasse meia dúzia de anos do novo século para o provar, há quem não desista da subsistência seja pelo meio que for. Os diversos oportunismos – alguns positivos, outros negativos – têm não só confundido o trajecto para o futuro, como têm traído quem já tinha a certeza do que não queria.

E onde se encaixa o projecto destes manifestos militantes da actual música de dança? O que realmente pensar da ousadia de Harvey Basset e Thomas Bullock num período que parece revelar alguma revitalização da dance scene? Talvez nada. Talvez mereça a oportunidade do ouvinte que, ignorando as diversas referências que vão desde os Pink Floyd, Dire Straits ou mesmo LCD Soundsystem, encare a peça Map Of Africa como um velho desejo tornado realidade. Ou sinta a poderosa vontade de uma dupla em desdobrar-se em esforços e compor um disco rock com um falso espírito épico. Ou encare ainda isto apenas como um disco onde a música extravasa o prazer que deu em ser elaborado.

Paradoxalmente, o disco está desfasado do seu tempo e no entanto reside aí o prazer de ouvir uma música sem compromissos de futuro. O registo é linear no pensamento que sustenta, numa certa rebeldia contida, descaradamente oportunista – talvez positivo – no tempo em que vê a luz do dia. No entanto para Harvey e Bullock não será a fama ou o dinheiro o motivo para a encarnação nesta forma de estar. Talvez garanta a subsistência ou talvez se trate de uma estranha cruzada em busca da felicidade. Agora certo é que não se trata de um achado milagroso que seja um fiel retrato da cultura musical dos nossos dias. E se a dupla confunde o ouvinte com um título sem uma aparente razão de ser ou com uma capa misteriosa, fará as delícias de quem, por pequenos momentos, deseje esquecer os últimos 25 anos da música contemporânea. Confuso mas aprazível.
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com

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