DISCOS
The Twilight Sad
Fourteen Autumns & Fifteen Autumns
· 11 Jul 2007 · 08:00 ·
The Twilight Sad
Fourteen Autumns & Fifteen Autumns
2007
Fat Cat / Flur


Sítios oficiais:
- Fat Cat
- Flur
The Twilight Sad
Fourteen Autumns & Fifteen Autumns
2007
Fat Cat / Flur


Sítios oficiais:
- Fat Cat
- Flur
Flavor Flav dos Public Enemy estava profeticamente certo quanto ao futuro do rock grandioso escocês: não há credibilidade neste hype.
Descobrir um escocês entregue à melancolia é quase tão fácil como encontrar um palheiro numa agulha. Falamos, afinal, do nativo de uma língua que pode ser falada em vez de cantada e, mesmo assim, surtir o efeito de coração destroçado que se espera do rock que intensifica a desgraça. Quer isso dizer que basta aos Twilight Sad, habitantes da periferia de Glasgow, a manutenção espontânea do seu comportamento tradicional para que este primeiro longa-duração cumpra todas as alíneas que exige o protocolo do rock miserável: distância e abandono tratadas por terapia shoegaze, dolência nostálgica, refrães climáticos inversamente denunciadores da frieza que afecta as relações. Fourteen Autumns, Fifteen Winters assinala positivamente tudo isso, mas não chega.

Isto porque ser triste na hora de se expressar é o mínimo que se exige a um conjunto de escoceses (basta revisitar a memória indie dos últimos 15 anos para se entender isso). Não basta, em dias de concorrência feroz, acrescentar a isso ressonâncias do catálogo mais primário dos Mogwai e a angústia requisitada por empréstimo aos vizinhos britânicos Manic Street Preachers (“And She Would Darken the Memory” lá está para sustentar esse apontamento). Falta ambição e arrojo para salvar Fourteen Autumns, Fifteen Winters de ser farinha de um mesmo saco cujo fundo ameaça a qualquer instante romper-se tal é o peso que exercem os tiques pós-rock. Repare-se, por exemplo, em como é meramente trivial uma “Mapped by What Surrounded Them” que não chega a ser canção integra ou muito menos sonda sónica lançada em missão até terrenos por explorar. São soldadinhos de chumbo em marcha inconsequente.

Mesmo assim, Fourteen Autums & Fifteen Winters vem, desde há alguns meses, a ganhar volume sob a influência de um hype dúbio que vai ecoando na ambição de formar um coro. É verdade que a muralha de som erigida para servir ao debute semeia suspeitas de um concerto marcante, mas o que em disco se escuta é mesmo um bluff que se vai ampliando grosseiramente com o tempo. Na melhor das hipóteses, serve como plano d para as tardinhas das estações visadas no título (Autumn Leaf continua a ser óptimo plano b nesse terreno). Na pior, é um tiro ao lado que só não falha por completo o alvo porque não deixam de ser simpáticos os discos da Fat Cat e os lamentos da nação escocesa aqui representada.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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