DISCOS
White Circle Crime Club
A Present Perfect
· 07 Jun 2007 · 08:00 ·
White Circle Crime Club
A Present Perfect
2006
Conspiracy Records


Sítios oficiais:
- White Circle Crime Club
- Conspiracy Records
White Circle Crime Club
A Present Perfect
2006
Conspiracy Records


Sítios oficiais:
- White Circle Crime Club
- Conspiracy Records
O desespero conduz a que rock clonado na Bélgica sirva de mote a carta ao Pai Natal do rock.
Querido Pai Natal,

bem sei que é tardio o meu pedido e que, por esta altura, o mesmo já te deve encontrar de bagagem feita para umas merecidas férias numa qualquer localidade bem mais quente que aquela que te serve de morada. Mesmo assim, estou certo de que de mais tempo dispões agora que não és obrigado a perder tanto tempo a gravar publicidades para refrigerantes. A verdade é que aqui em Antuérpia não se passa nada além de algumas manifestações contra isto e aquilo e muito recentemente cansei-me de acompanhar a Selecção Nacional que persiste em desiludir-me. Melhor seria viver na Suiça e dedicar-me a um pós-rock ludibriante como fazem os Honey for Petzi. Em vez disso, é o rock mais atiçado que me cativa e também aquela imprevisibilidade punk que permite juntar-lhe uns órgãos arruinados muitas vezes meramente acessórios. Ainda assim, tenho feito os possíveis para que o meu bando de patifes atraia alguma identidade e consiga aprontar ciladas que não caiam na redundância da fracassada operação A Present Perfect, a segunda de grande escala.

É nesse sentido que solicito os teus generosos dotes. Dava um jeito imenso obter a sofisticação e talento pilhados ao ADN combinado dos At the Drive-in e Blood Brothers. Sem isso, o mais certo é continuar a minha banda a despender esforços inconsequentes em frenesins enlatados como “That Was Now” ou em peças tão datadas como “Reversed Revivals” cuja berraria estridente tive de ir desenterrar a uma campa do cemitério de El Paso. Não tive a oportunidade de visitar Washington nesse meu roteiro mórbido, mas devo confessar que também me aprazem os picos dramáticos que alcançava Guy Picciotto nos discos de Fugazi que venero. Por favor, acrescenta aos meus principais pedidos um outro que faça desaparecer algum volume às sobrancelhas do Guy.

Tenho-me portado bem e recentemente até garanti ao meu gang um lugar na primeira parte dos TV on the Radio. Aquela coolness pré-apocalíptica não é contagiosa e aquilo que nos sobrou em mãos foram protótipos de um rock de caprichos vanguardistas que não vão além do inadaptado e inútil. O pedido de corte de sobrancelhas não se arrasta aos penteados afro desta rapaziada nova-iorquina com que tenho aprendido muito. Pode ser que um dia escreva canções tal como eles. Seria fantástico, não acha, São Nicolau? Espero que não lhe incomode o tratamento informal, mas são tão escassas as hipóteses de me garantir o que lhe peço, que achei não haver mal em alguma camaradagem.

Atenciosamente me despeço,

Cabecilha do White Circle Crime Club

P.S.: Caso decidas ignorar a carta que lhe envio, posso sempre tentar de seguida o Rick Rubin
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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