DISCOS
Greg Malcolm & Tetuzi Akiyama
Six Strings
· 22 Mai 2007 · 08:00 ·
Greg Malcolm & Tetuzi Akiyama
Six Strings
2007
Korm Plastics / Esquilo


Sítios oficiais:
- Korm Plastics
- Esquilo
Greg Malcolm & Tetuzi Akiyama
Six Strings
2007
Korm Plastics / Esquilo


Sítios oficiais:
- Korm Plastics
- Esquilo
Par de guitarristas excepcionais partilham um cachimbo da paz que fumega maravilhosas propriedades acústicas e finger picking esclarecido.
Tem ganho força aquela ideia que dita o ilustre guitarrista japonês Tetuzi Akiyama como um criativo bipolarizado entre a potenciação de linguagens, em termos gerais, mais fáceis e outras mais difíceis, respectivamente mais próximas de uma convenção mais memoriável ou, por outro lado, distante dessa por via de um estilo mais críptico e livre. Até certo ponto, a responsabilidade dessa noção recai na divisão que o Capitão Tetuzi confere às suas apresentações a solo, habitualmente divididas entre uma metade eléctrica próxima do blues e boogie (que o próprio recomendava que não fosse esquecido no título do disco que definiu essa matriz) e outra que dir-se-ia mais experimental – e assim aconteceu na anterior passagem pela ZDB conforme registou o colega Catarino.

A partir daí, torna-se mais interessante acompanhar alternadamente as facetas a Tetuzi, sendo que a essa vontade muito se adequava um entretanto esgotado duplo CD de enorme valor lançado pela Esquilo, Terrifying Street Trees, que documentava a génese do estilo cunhado como boogie no disco bónus e o espectro freeform / freestyle na rodela comum à edição especial e normal. Se entendermos como balizas os registos citados, sobra um enorme espaço para Tetuzi Akiyama cultivar com a sua criatividade - distribuída ora pela discrição das prestações lower-case ora pela integração em colectivos de improviso onde chega a recorrer a aspiradores como instrumento (sem deixar de haver alguma provocação nisso). À margem de tudo isso, restam ainda vagas que Akiyama reserva ao imprevisível, iniciativas singulares e entusiasmantes como esta que encontra difusão em Six Strings.

A Tetuzi Akiyama, tal como à grande partida dos seus congéneres, falta essencialmente tempo para cumprir a toda a escala o desdobramento para o qual parece talhada a sua versatilidade imensa. A label Korm Plastics tem isso em conta e decidiu, no ano de 2000, inaugurar uma série de gravações, baptizadas como Brombron, que aliassem dois ou mais músicos numa sessão para a qual nunca tivessem tido, até aí, disponibilidade e condições favoráveis. Ocupando o lugar do décimo-segundo volume na colecção, Six Strings - sucedido em Nijmegen, na Holanda - resulta do encontro exclusivamente acústico entre as guitarras de Tetuzi Akiyama e do neozelandês Greg Malcolm, que colocou a (K-raa-k)3 no mapa com um fascinante e imersivo Swimming in it e que aqui se volta a afirmar como um dos nomes a ter em altíssima conta na actualidade do finger picking.

Desassombrado de egos, Six Strings distingue-se essencialmente pela pureza espiritual que capta ao trato cordial entre dois excepcionais guitarristas apostados numa compensação recíproca que, na obtenção de radiância às seis cordas, os leva a partilhar o mérito, e, no desfalecimento gracioso, não os impede de ser cúmplices. O que podia muito bem tornar-se uma elegia mútua, eleva-se à condição de compadrio saudável entre duas guitarras que, em “Life on it’s way”, parecem marcar ritmo a uma ceifa de trigo descontraída e, por altura de “Nijmegen Duck”, negoceiam entre si a infiltração nos meandros do blues mais associável aos estados do sul da América do Norte. Isto quando mais se revela a naturalidade da gravação por também se escutar o respirar dos músicos envolvidos.

Até esse acrescento serve a um Six Strings entregue à condensação do que de mais luminoso e espontaneamente inspirado possa ter resultado do encontro entre dois músicos no preciso momento em que se livram da pressão imposta pelos respectivos calendários e usufruem nas guitarras da serenidade que oferece uma ocasião que parece abonada por todo o tempo do mundo. Numa Holanda célebre pelos seus santuários de experiências inéditas, fica-se a saber que em Amesterdão reside as suas opções mais tóxicas e em Nijmegen as mais lúcidas.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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