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The Young Gods + She Pleasures Herself
Lisboa Ao Vivo
14-/04/2019


Quase uma década depois, os Young Gods decidiram sair do casulo em que se encontravam e voltar a agraciar-nos a todos com a sua mescla de rock, industrial e música electrónica com um novo álbum, Data Mirage Tangram, o mesmo que vieram apresentar a Portugal - país que sempre os tratou bem. Aliás, o sentimento de amor foi recíproco; durante o concerto em Lisboa, foi possível escutar Franz Treichler, guitarrista e vocalista, a dirigir-se ao seu público recorrendo a um uso perfeito da língua de Camões...

Os Young Gods adoram-nos, portanto. E nós a eles. Não é difícil: há naquela música de toada negra algo de estranhamente reconfortante. É como se a escuridão não ali estivesse para nos oprimir ou trancar, mas sim para nos erguer nos braços e deixar-nos a voar sobre todas as auroras que teimam em nos puxar. Somos mais felizes na solidão negra. Somos mais felizes quando escutamos o crepitar do som anunciando ritmos digitais e ambient, ou quando Franz canta "Figure Sans Nom", romance com mulher-sombra.

Num concerto muito bem recebido pelos fãs (quase todos da velha guarda, evidentemente) destacaram-se sobretudo o ranger da guitarra - que era quase sempre usada para criar efeitos vários ao invés de melodias - em "Tear Up The Red Sky", uma das malhas novas; o momento free jazz, com direito a harmónica, de "Moon Above"; o technão fodido e quase-Underworld, prontíssimo a sentir o pedal, de "About Time"; e o grito de "Envoyé", com o público de braços no ar por entre a parca luz e o fumo. Dois encores - onde não faltou a obrigatória "Kissing The Sun" - puseram termo a (mais um) espectáculo memorável de uma banda que parece teimar em continuar a ser extraordinária quando poderia, sabe-se lá, aproveitar os louros passados e dormir tardes à sombra dos Alpes. Ainda bem.

Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
17/04/2019