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Forest Swords
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
30-/11/2017


A compaixão atinge-nos quando menos esperamos. No caso de Forest Swords, deu em disco, o segundo da carreira e aquele que apresentou nesta noite fria, na Zé dos Bois. Uma noite que ficou, em Portugal, indelevelmente marcada pela morte do único rockstar que tivemos, e que estaria certamente nas cabeças de muitos dos que aqui estiveram presentes, numa espécie de compaixão pela perda de alguma infância e memórias passadas.

© Vera Marmelo

Alheio a isso tudo estava, naturalmente, Matthew Barnes, vindo de um país cuja cultura musical se encontra alicerçada em rockstars; basta ir a Manchester e ver o quão aquele povo venera gente como Morrissey, Ian Curtis ou os irmãos Gallagher. Não que ele, Forest Swords, o seja. Ele vem de um outro tempo, um tempo em que a música electrónica é o novo rock e em que os ídolos fazem parte do mundo anglófono mas não do seu lado branco, da Jamaica e dos seus soundsystems e da repetição em dub.

© Vera Marmelo

Perante uma sala cheia e a abarrotar pelas costuras (havia quem tentasse vê-lo do lado de fora do aquário, colocando-se de pé numa das cadeiras ali disponíveis, mas mesmo quem estava lá dentro só há de ter vislumbrado um vasto negrume para além dos visuais), Barnes fez-se ouvir durante cerca de uma hora, acompanhado por um baixista que ia acrescentando camadas de groove e ambiente aos sons que saíam do seu computador. Este riddim contemporâneo não se faz acompanhar por verso, mas quase que é possível imaginá-lo; um aspirante a MC a acrescentar o que falta àquelas camadas. Entre declarações de apreço pela ZdB (please support this place, disse ele) e pela erva que se fumava nas filas da frente, Barnes mostrou um set coeso que ajudou a levar para longe a tristeza pela perda de quem nunca se conheceu. Seguir em frente foi a lição que se retirou.

Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
07/12/2017