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Neopop Festival
Viana do Castelo
3-5/08/2017


Há gente doida para tudo. Uns controlam países e meios de produção. Outros atiram-se à água de Viana do Castelo, num estado presumivelmente alcoólico ou pior, clamando ser o John Travolta e amando este nosso Portugal. E outros ainda fazem as malas e seguem para o Minho, descendo no dia seguinte para Corroios, uns 400km mais abaixo. A música a isso obriga. Mais concretamente, a música dos Kraftwerk e dos Dillinger Escape Plan, com alguns outros nomes também eles interessantes pelo meio.

Mas falávamos de Viana. Daquele azul celeste e marítimo, dos barcos ancorados, do peixe que nos entra nas narinas e no goto. E do Neopop, festival dedicado à música electrónica que cumpriu este ano a sua 12ª edição, sob a égide de uma temática específica: a do techno, e a da arte que brota do techno. Há mais de 30 anos que este género tem conquistado o mundo, e as pistas de dança do mundo, e os melómanos. Conquistou desta feita, também, as telas, com uma exibição inspirada nos artistas que compuseram o cartaz de 2017.

Nenhum deles, no entanto, era maior do que os Kraftwerk, que assim regressaram ao país após dois belíssimos concertos no Porto e em Lisboa, novamente para apresentar o seu espectáculo 3D que é uma espécie de revisitar de uma longa carreira. Mais longa ainda do que o techno que inspiraram e ajudaram a nascer. É certo que, em termos sonoros, a sua música já não tem o mesmo peso de outrora - o que explica a saída de muitos das fileiras da frente, durante o concerto, e também é certo que da formação original já só resta um elemento, Ralf Hütter. Mas quando "Computer Love" e "The Model" nos caem em cima daquela forma, o que é que isso interessa?

Apesar de, em relação aos concertos anteriores, terem ficado alguns temas de fora - presumivelmente por ser este um espectáculo em contexto de festival, e ao ar livre - não houve como não sentir que, naquelas duas horas, se estava a assistir a um pedaço de história - e de arte techno - que, chegada a hora, não terá outro caminho que não o de fazer parte de um glorioso museu onde o património imaterial da humanidade possa ser respeitado como o merece. Ou então passa para as mãos de robôs e da inteligência artificial, para que finalmente os Kraftwerk fechem o círculo do seu mito...

"Spacelab", como sempre, contou com projecções nas quais um gigante disco voador aterra sobre Viana do Castelo, como aterra em todas as cidades pelas quais os Kraftwerk passam. "Autobahn" levou-nos pela auto-estrada em modo sentir o pedal. "Radioactivity", em versão original e The Mix, lembrou novamente Fukushima e fez dançar como nenhuma outra do alinhamento. As subvalorizadas etapas de um subvalorizado Tour De France concederam alguma "modernidade" ao jogo, e o final, com uma mescla entre "Boing Boom Tschak", "Techno Pop" e "Music Non Stop" terminaram com chave de outro um concerto que é daqueles que valem sempre a pena. Tanto que nem valerá a pena falar de The Field - apesar da jarda que se fez sentir - ou de Planetary Assault Systems - onde esta foi ainda maior. Mas fica o registo de um belo concerto num festival que, a par do Boom, se tornou imprescindível para os amantes da electrónica.

Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
08/08/2017