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Pharmakon / pä
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
3-/05/2017


Passam pouco minutos das 22h quando a dupla portuguesa pä pisa o palco da Galeria Zé dos Bois. Filipa Campos e Paulo da Fonseca vieram apresentar, a Lisboa, uma música feita de uma exploração minimalista e electrónica, num diálogo quase telepático com recurso a drone e sons quase que em decomposição, cumprindo à risca o tempo que lhes foi concedido - podia-se observar, no cimo da mesa, a contagem crescente para o final da peça que interpretaram. Interessante quanto baste, mas convenhamos que todos os que ali estavam - e eram vários - aguardavam impacientemente por Margaret Chardiet, a nova coqueluche do noise feito no feminino.

"No feminino", porque ainda é raro ver uma mulher nestas lides; o noise é, afinal de contas, uma expressão física de violência, e a violência é um sentimento macho. Mas na música de Chardiet, ou Pharmakon, não deverá existir espaço para géneros. Há, isso sim, reacção, força, vísceras abertas perante o mundo e sob o jugo da power electronics; há a libertação através do ruído, uma libertação dos sistemas, de todos os sistemas, capitalistas, patriarcais, religiosos. O noise é a expressão máxima da agonia de se ser humano, e isso é comum a homens e mulheres...

Naquela que foi a apresentação de Contact, o seu novo álbum editado pela Sacred Bones, Pharmakon deambulou, durante quarenta ou mais minutos, pela galeria inteira em busca desse contacto físico e mental, e exemplificando essa dor supracitada pelo grito e pelas electrónicas. Gritos que eram tão imperceptíveis quanto a dor o é. Electrónicas que eram tão virulentas quanto o melhor dos Whitehouse, expoentes máximos dessa onda. Faltou, apenas, um volume digno à música aqui apresentada - se é noise, há que sair com os ouvidos a sangrar ou então não valeu a pena. Mas que foi uma belíssima estreia em Lisboa, ninguém o poderá negar.

Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
08/05/2017