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Cass McCombs
Centro de Arte de Ovar, Ovar
01-/02/2017


Mesmo num dia de quase tempestade, foram muitos os que se deslocaram do Porto e de outras paragens para rumar até Ovar onde Cass McCombs, em data única nacional, se apresentava na Casa das Artes local para um concerto obviamente esperado depois da actuação no NOS Primavera Sound de 2016 naquela enorme relvado dos sonhos. É a descentralização a funcionar na sua melhor forma.

Numa sala quase esgotada, o norte-americano abriu o seu livro de canções – com claro destaque para o seu último disco, Mangy Love (2016) - e conseguiu suspender o tempo, embalando tudo e todos naquelas canções cheias de pequenos twists, pequenos engenhos de construção. Há sempre alguma coisa a acontecer nas suas canções.

Como ficou evidente quando apresentou a sublime “Bum Bum Bum”, com aquele encontro absolutamente perfeito entre a sua guitarra e os teclados. Sim, aquele riff que só por si já justificaria aquela canção. Esse mesmo, vocês sabem.

Para perto do fim estava reservado um momento altíssimo. Uma rendição perfeita de “County Line”, maravilhoso relato sobre as fronteiras dos nossos tempos, que neste tempo acaba por ter uma conotação politica. Quando Cass McCombs diz, em quase falsete, quase desespero, “You never even tried to love me / What did I have to do to make you want me?” cai-nos a força dos joelhos.

Em pouco mais de uma hora, Cass McCombs transportou-nos a todos para fora dali. Não que não se esteja bem em Ovar. Mas nesta coisa das canções, uma viagem sabe sempre pela vida. E as canções do norte-americano têm de facto essa capacidade de projectar cenários, realidades alternativas (e nunca factos) num mundo a necessitar, cada vez mais, de escapatórias possíveis.

André Gomes
andregomes@bodyspace.net
21/02/2017