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Rocky Marsiano
Clube Mercado, Lisboa
08/09/2005


São 11 da noite (hora a que o concerto estava marcado) no Clube Mercado, em Lisboa. D-Mars (a mente por detrás de Rocky Marsiano) e Nel'Assassin (DJ) já estão na sala. Ouvimos, em conversa com amigos, D-Mars a dizer que o concerto só começa quando a sala estiver composta. Rodrigo Amado (saxofone) apareceria depois. São 11 e meia. Não há maneira de a sala ficar composta nem há maneira de começar. Em palco há um híbrido de cadeira e mesa-de-cabeceira com um candeeiro aceso em cima. DJs diferentes vão passando soul, jazz e clássicos do hip-hop, nomes como Mos Def com Q-Tip ou Digable Planets. E continua sem haver maneira de o concerto começar.

Algures antes da meia-noite, D-Mars cumprimenta a sala, algo composta, mas não tanto assim (nunca viria a compor-se totalmente), desculpando o atraso. Explica que vai esperar ainda por mais e que nos próximos 15 minutos vai improvisar algo com Nel'Assasin e Rodrigo Amado. Estão à espera de T-One, o guitarrista, o membro que falta. Vão mostrando um pouco daquilo que se vai passar durante a próxima hora e tal, com Nel'Assassin nos pratos, D-Mars no sampler e Rodrigo Amado no saxofone. É aí que começamos a ver que o que D-Mars faz em palco não parece nada de especial, só dispara batidas e alguns samples, mas percebemos também que se não fosse ele nada daquilo faria sentido.

The Pyramid Sessions é o disco que ia ser apresentado ao vivo pela primeira vez, na estreia do projecto Rocky Marsiano ao vivo. É basicamente um processo de recontextualização da colecção de discos de jazz de D-Mars, MC dos Micro e um dos patrões da Loop:recordings. Os convidados ao vivo aparecem também no disco, e complementam os samples e o hip-hop (tudo remete para o hip-hop, para o diggin') que D-Mars traz. Há a guitarra mais funky do que jazzy de T-One (dos Mr. Lizard, outro projecto da editora Loop), há o saxofone de Rodrigo Amado e há o talento de Nel'Assassin nos pratos.

No princípio do concerto propriamente dito D-Mars avisou que esta era a primeira actuação do grupo, pelo que qualquer percalço teria de ser desculpado. E foi. Durante pouco mais de uma hora, D-Mars funcionou como maestro do resto dos músicos, dizendo-lhes quando tocar e quando parar. Para além das batidas e dos samples de discos de jazz de D-Mars, os solos de Rodrigo Amado, o scratch de Nel'Assassin e o diálogo entre este e a guitarra de T-One (especialmente em "Communicating"), fizeram a noite daqueles que se deslocaram àquela cave acolhedora onde se situa o novo clube Mercado. Cada músico complementa-se, por exemplo, Nel'Assassin é um virtuoso turntablist mas não é um digger, e D-Mars não é um músico, sendo a parte de "tocar um instrumento a sério" trazida por T-One e Rodrigo Amado.

Ainda há umas arestas por limar, mas Rocky Marsiano, qual boxeur, tem pernas para andar. E o recém-aberto (num novo local) Clube Mercado também. É a visão própria de D-Mars do hip-hop instrumental, pelo que espera-se que apareça mais vezes por aí.

Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net
08/09/2005