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The Men / Loosers
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
09/02/2012


Hipotermia, s.f.: diminuição da temperatura normal do corpo. Igualmente: aquilo a que se arrisca quem sai à rua numa noite tão gélida como o foi esta. Felizmente que a ZdB esteve composta q.b. e o calor humano que lá dentro se fazia sentir foi suficiente para esquecer o vento frio das ruas, algo a que as grandes prestações dos Loosers e dos Men ajudaram. Valeu a pena enfrentar o inverno para ter assistido à estreia do quarteto de Brooklyn por cá, que afinal não é tão masculino quanto isso: o baixista era uma rapariga bem loira. Mas sentimo-nos enganados? Não, nada. Quer dizer, talvez um bocadinho.

Ódio, s.m.: Aversão inveterada e absoluta. Também: o sentimento de quem teve de esperar mais quarenta minutos do que aqueles que estavam anunciados para ver finalmente os Loosers em cima de um palco. A impaciência cedo se transformou em ginga mal o por hoje trio encheu a sala de ritmo e groove apontado ao cosmos, num universo musical cheio de possibilidades alienígenas. Oh, sim: eles andam aí. E dançam que se fartam. A palavra era ao mesmo tempo um complemento sonoro e poético, aliando-se ao tribalismo astral que baixo e bateria impunham com o intuito de levar ao transe e à nudez generalizada. Houve momentos do primeiro: ninguém arriscou o segundo. No final, uma espécie de cover do clássico house "Beat Dis", de Bomb The Bass, teve direito a convidada especial vinda de propósito dos EUA, cuja spoken word se perdeu infelizmente na muralha de som. Mas isso não impediu a quase-perfeição do concerto.

Lenha, s.f.: [inf.] Pancadaria. Ou: aquilo que se viveu nos melhores momentos do concerto dos The Men, nomeadamente quando "Bataille", "If You Leave..." e "( )" surgem com toda a sua pujança shamânica, algo a que só os privilegiados tiveram direito; ao contrário do que é habitual, um enorme pano preto tapou a janela principal do aquário. É um acto com o qual até concordamos: quem quer a salvação tem de se converter. Os Men parecem já ter encontrado o seu Deus, e este responde pelo nome de Velocidade. É a Ela que se dedicam por inteiro, sem que a sua fé se abale ao longo dos quase cinquenta minutos que durou a sua missa. Para além dos salmos retirados de Leave Home houve tempo para malhas antigas e/ou futuras - e, aqui, somos obrigados a reconhecer que não lemos o livro por completo, daí uma ou outra tentação de cruzar de braços a que tenhamos cedido. De resto estiveram sempre erguidos. Como manda o Senhor.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
11/02/2012