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LCD Soundsystem
Casa da Música, Porto
20/06/2005


Como transformar a sala 2 da casa da música num clube nocturno de Nova Iorque: pegue-se nuns LCD Soundsystem fresquinhos, num disco de estreia acabado de lançar e repleto de confirmados e possíveis hits, junte-se-lhes uma cintilante bola giratória de discoteca (sim, a mesma que se pode observar no homónimo LCD Soundsystem), umas 300 pessoas desejosas por abanar as ancas e o resto acontece naturalmente. O aquecimento foi feito pelos X-Wife – num concerto anunciado à última hora – mas vocês já sabem como foi. Continuando, toda esta receita relativa aos LCD Soundsystem teve, como todos esperavam, o desfecho pretendido: dança tresloucada, suor e lágrimas, gente em tronco nu e até mosh e crowd surfing desenfreados. Como não podia deixar de ser, James Murphy é o rei da festa. Com uma pandeireta na mão, conduz o poderoso sistema de som pelas batidas que se desejavam e que se exigiam, pelo baixo forte, arrumando de vez com as dúvidas em relação à festa.

© Ana Sofia Marques

Mas Portugal até já tinha perdido a virgindade dos LCD Soundsystem aquando da edição 2004 de Paredes de Coura, num concerto madrugador (e quase mítico, pelas circunstâncias) que mais parecia uma festa privada para um número reduzido de pessoas que ora dançavam abanando luzinhas fluorescentes, ora sacudiam as roupas molhadas - a chuva foi a presença mais fiel do festival – através de estranhos rituais e danças. Mas circunstâncias agora eram outras, completamente diferentes: James Murphy chegou mesmo a comentar as condições fantásticas da sala. A maior diferença é que agora os LCD Soundsystem conseguem encher a sala 2 da Casa da Música (os singles ajudam e a MTV também). Mas foi curiosamente com a hiper-enérgica “Give It Up” (um dos três singles que fizeram crescer água na boca durante a espera pelo disco de estreia) que as coisas começaram realmente a aquecer. Daí até à badalada “Daft Punk Is Playing at My House” (numa versão inferior e um pouco desfasada do original), de baixo e teclados gordos, foi um instantinho. “Tribulations” é de fazer a banda de João ‘Kitten’ Vieira corar de inveja (mas e daí, devem ter sorrido quando James Murphy confessou estar no backstage a esperar ansiosamente que os portuenses tocassem “aquela”), “Movement” é, como se sabe, uma bomba pronta a explodir. E quando explode – oh – os estilhaços são muitos e quase que há feridos.

O cowbell - esse marco na música, capaz de arrancar as melhores reacções das melhores das plateias – vai marcando presença constante e, com muita justiça, vai espalhando um pouco mais a loucura – há gente que corre numa quinta imaginária ao lado dos animais. Os restantes dois singles (de três) que se exigiam (o primeiro, “Give Ip Up” já havia marcado presença), “Losing My Edge” e “Yeah” (numa versão mais ou menos estúpida, consoante os gostos), surgem mesmo a calhar para os mais saudosistas. Mas algures no meio disso tudo houve até espaço para uma versão pujante de “Slowdive” de Siouxie and the Banshees. Mas o campeonato das covers não havia ainda terminado pois o encore reservava uma versão de “Jump Into the Fire”, um tema de Harry Nilsson, numa altura em que a histeria era mais do que muita. Por isso mesmo, até podia ter rodado uma versão de Leonard Cohen que poucos teriam reparado. Estava tudo demasiado entretido e eufórico para ligar a nomes ou pensar demais. Os LCD Soundsystem deram uma festa como há muito não se via. E com um extra: confirmaram-se como uma excelente forma de perder peso.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
20/06/2005