O motivo era a inauguração de duas exposições – a instalação Blow Up pelo fotógrafo Carlos Lobo no escritório da CINBOL e a inauguração de Strange Garden da Fábrica na galeria Dama Aflita, ambas situadas no número 84 da Rua da Picaria, uma daquelas merecedoras de, uma daquelas merecedoras de página inteira no Local Porto de domingo do Jornal Público, por fazer mexer a cidade do Porto. Num espaço totalmente renovado, sobrou uma cave suficientemente apetrechada para se realizar concertos e foi aí que os Evols, a criação de Carlos Lobo, França Gomes e Nuno Santos, trataram de dar conteúdo sonoro à cerimónia. Com ligações aos Bildmeister (entre, imaginamos, outras bandas), os Evols têm uma formação, que não sendo única, é claramente pouco comum. Três guitarras em palco, apenas, servidas por uma muralha de amplificadores e um mar de pedais.
O cenário era reforçado por torres de televisores controlados por Pedro Maia (p.ma), o responsável pela componente visual. A escuridão que se ia formando na cave ao longo do concerto era um combustível para as explorações sonoras que se foram desenhando entre as três guitarras. Os Evols arrancaram para uma única viagem que durou cerca de 40 minutos e onde se foram criando densas paisagens, compactas paredes sonoras. Como se os My Bloody Valentine ficassem em suspenso, e o shoegaze fosse uma religião.
Partiram de uma estrutura pré-definida – tanto quando possível – e foram improvisando. Foram-se soltando cada vez mais pormenores na guitarra de Nuno Santos, foram-se tornando mais complexas as manobras e houve inclusive espaço para algumas vozes no horizonte, sem ocuparem demasiado espaço na mistura geral. Para o final da actuação ficou o libertar da tensão acumulada em quase 35 minutos de crescimento sustentado, com o elevar do ruído e da sobreposição de camadas. Foi curto mas provavelmente só poderia ser assim. E foram 40 minutos que deixaram boas impressões para o que ainda pode vir aí num futuro próximo.