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Gala Drop / Religious Knives
Museu do Chiado, Lisboa
05/10/2008


Actualmente, muito poucas (ou nenhumas) serão as semelhanças entre os Religious Knives e os Gala Drop. No entanto, partiram de um código genético comum que assente em premissas freeform (referenciar os Double Leopards não será de todo descabido) se cristalizou em formas, que não sendo estanques, tendem a uma aproximação a cenários mais estruturados (embora voláteis).

Em apresentação a Gala Drop os portugueses apresentaram-se sem Tiago Miranda, substituído por Guilherme Gonçalves, sem que essa troca tenha afectado de algum modo a coesão entre os três músicos. Alicerçadas na bateria firme mas em acessos de expansividade de Afonso Simões, as quatro composições do trio tecem-se em rendilhados espectrais de sintetizador e pormenores de percussão devedores do dub (a liquidez de Scientist fez-se notar) aos quais não é imune um certo apreço pelos ritmos africanos ou devoção kraut. Longe de qualquer experimentalismo tentativo ou vestigial, temas como "Parson" (loop Alan Parsons Project a ceder à motorik) ou a nostalgia sci-fi em ambiente tropical de "Frog Scene" adensaram-se neste concerto um pouco mais do que o ouvido no álbum de estreia, sem que se tenha perdido alguma da urgência que estes perpassam. Por momentos, as Caraíbas, a Jamaica e África planaram sem se deterem na sala do Museu do Chiado, transmutadas num corpo vaporoso e triunfante.

A descida seria inevitável, e apesar do apelo espiritual e psicadélico do (agora) quarteto norte-americano, o concerto dos Religious Knives terá sido pouco mais do que um extremamente eficiente concerto rock. Longe vão os tempos do dub e da kösmiche reunidas em Remains, abraçando agora o legado do rock psicadélico (facção sessentas e setentas) sem que o resultado seja particularmente inovador ou mesmo estimulante. Todos os que esperavam momentos mais escorregadios ou acessos improvisados, tiveram de se contentar com um pequeno surto no final do stomp garageiro de "Brooklyn After Dark", mesmo assim sem grande fervor.

O facto de ser o décimo nono concerto da banda em tantos dias poderá ser explicação para uma certa dormência que se sentia em músicas como a abertura com "Downstairs" ou a quase cantarolável "Basement Watch" em decalques exactos daquilo que se pode ouvir em The Door. Assente principalmente neste álbum, a sair pela Ecstatic Peace em Outubro, a actuação do quinteto foi competente e nunca meramente revisionista enquanto fantasmas de "When the Music's Over" dos Doors ou os Velvet de White Light, White Heat se faziam notar (embora, nunca descaradamente) nas composições da banda, que ainda deve ter conseguido arrancar aos presentes um ou outro abanar de cabeça e quiçá, um movimento de ancas mais sinuoso.

Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
09/10/2008