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Chris Corsano + Manuel Mota / Orphan Fairytale
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
06/06/2007


Depois de uma passagem pelo Jazz Ao Centro, onde actuou em quarteto com Evan Parker, Paul Dunmall e John Edwards, o baterista Chris Corsano apresentou-se na Galeria ZDB em duo com o guitarrista português Manuel Mota. Confirmando porque é considerado um dos maiores valores da bateria da actualidade, Corsano fabricou texturas utilizando os mais diversos elementos do seu kit, além de se ter servido de outros objectos, como uma pequena melódica. Depois de passagens recentes na galeria da Rua da Barroca (integrado no quarteto de Rodrigo Amado e em duo com Okkyung Lee), Mota apresentou mais uma vez o seu discurso jazz desconstruído na guitarra eléctrica.

Da união de esforços resultou uma música livre e atenta. Às sugestões da guitarra, a bateria ia respondendo e vice-versa, sempre numa comunicação acertada. Se por vezes a bateria optava por seguir numa determinada direcção, a guitarra aproveitava para lhe dar espaço e permitir as suas explorações próprias em liberdade, intervindo seguidamente com oportunidade. Entre o individualismo e o diálogo, foi uma sessão de grande música improvisada confirmando, para além de talento amplamente reconhecido, uma capacidade de adaptação. A título de referência poderemos evocar a gravação The Advocate de Tony Oxley com Derek Bailey, editada recentemente pela Tzadik - dois mestres de quem Chris Corsano e Manuel Mota são naturais seguidores.

Na primeira parte actuou a belga Orphan Fairytale. Abriu a actuação com um drone ininterrupto, seguiu com pequenas melodias à lá Múm (mais despidas e extensivamente prolongadas) e terminou com um contínuo vocal fantasmagórico. Foi uma actuação globalmente pouco apelativa, mas serviu como aperitivo simpático para a grande actuação do duo Corsano/Mota que se seguiu e que até um elemento dos Comets On Fire confirmou.

Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
06/06/2007